05/07/09

Quo vadis

Há pouco tempo assisti a um colóquio sobre eutanásia, em que os oradores eram um juiz conselheiro do supremo tribunal de justiça e o dr. Pinto da Costa (especialista em medicina forense). O assunto versava a morte desejada pelo indivíduo que se considerava numa situação de insustentável qualidade de vida. Conhecendo o provérbio “há duas certezas na vida: pagar impostos e morrer”, o assunto revelava-se crucial e fundamental para o ser humano.
A grande diferença entre o ser humano e as outras espécies é que tem uma autoconsciencia da sua mortalidade, o que indicia uma certa crueldade para a nossa espécie. A (aparente) ausência de consciência da mortalidade por parte das outras espécies, coloca-as num plano metafísica mais confortável que a espécie humana. Esta finitude da vida levanta a eterna questão do sentido da vida: qual o objectivo de viver se sabemos que vai inevitavelmente existir um fim, independentemente do que se faça ou não? Qual o motivo da nossa existência na Terra se vamos desaparecer a prazo?
Provavelmente, 98% dos humanos criou mecanismos psicológicos para lidar com esta questão que atormenta a humanidade desde os seus primórdios racionais; esses mecanismos conduzem à alienação e ignorância voluntária da existência desse enigma angustiante. Normalmente, materializam objectivos que absorvem o seu ego filosófico e o adormecem, tais como obter sucesso profissional, o emprego, a aquisição sucessiva de bens materiais (automóvel, casa, vestuário, gadgets electrónicos, etc.), numa escalada progressivamente mais onerosa. O mesmo efeito produz o álcool e as drogas no alcoólico e no toxicodependente, respectivamente: alienam do sofrimento psicológico que cada um padece, anestesiando-o.
Assim, para os restantes 2%, o quotidiano tem uma perspectiva atroz: muito do que se faz parece inútil perante a evidência do fim. Um faraó com este dilema metafísico questionava o seu conselheiro se por acaso a morte trataria de modo diferente o faraó do seu escravo…
Já foram emitidas várias reportagens de pessoas em condições físicas muito debilitantes, como por exemplo tetraplégicas, que mostravam uma resiliência em viver naquelas condições. Existe uma certa falácia nesta abordagem: essas pessoas livraram-se involuntariamente do estúpido quotidiano que viviam, de ter um emprego, um salário, pagar as despesas, resolver os problemas diários. Nessas condições, e vivendo num pais civilizado, têm assegurado por parte da sociedade na pessoa do Estado, o sustento que necessitam para se manterem vivas, concentrando desse modo todas as energias em se manterem vivos. O individuo normal, sem emprego e sem recursos, não possui esse apoio, vivendo num sofrimento tão intenso como aquele em que essas pessoas vivem. Em ambos os casos não são condições normais de vida, e por isso, será que a eutanásia não seria válida para uns e outros que o desejassem? Uma tetraplégica afirmava peremptoriamente que se ficasse no estado vegetativo que não queria manter as funções vitais; será que um sem abrigo permanente, vivendo na rua e dos seus restos durante anos, não é uma forma vegetativa de viver?
Biologicamente, a vida e a morte têm sentido: o objectivo de cada individuo é manter-se vivo o tempo suficiente para que contribua para a perpetuação da espécie. A morte tem uma justificação para existir, permitindo criar um espaço ecológico para outro indivíduo; não criando esse espaço, a espécie poderia se extinguir por falta de recursos naturais que sustentassem todos. Portanto, o sexo é o objectivo final de cada indivíduo da sua espécie. Nesta perspectiva, a mortalidade tem uma justificação racional aceitável; contudo, a individualidade torna-se banal e inexistente, porque o que interessa é a manutenção da espécie como entidade colectiva e não a manutenção do indivíduo.
Para alguns, os indivíduos que questionam o sentido da vida, padecem de depressão ou são sintomas disso; porque será uma patologia questionar o evidente e disso se sentir angustiado por não conseguir encontrar resposta racional? A religião foi a resposta racional encontrada pela Humanidade. Analisando as várias religiões, de forma implícita ou explícita, todas elas se referem a uma imortalidade não terrena, revelando subrepticiamente que a morte física continua como uma questão insondável e destruidora do sentido da vida. A própria religião responde que esta vida física terrena tem sentido porque é uma passagem para a outra imortal; de outro modo, o seu sentido é difícil de o conhecer. Por isso, alguns humanos considerados excepcionais, dedicaram a sua vida na busca das respostas a estas questões milenares, tendo proposto métodos que conduziriam ao encontro das soluções. Tudo indica que eles as encontraram mas cada um de nós só terá a certeza quando a morte acontecer; até lá trilhamos os vários caminhos que existem que nos permite lidar com a eterna questão que nenhuma ciência respondeu. E se no patamar da ciência ainda acrescentarmos à equação insolúvel que muito ainda é cientificamente desconhecido no momento da morte, então encontrar a solução da equação torna-se colossal…!
“A morte é certa; a sua hora é incerta” era uma inscrição latina num mostrador de um relógio; esta única certeza deveria ter conseguido abrir as portas da percepção da Humanidade para que permitisse a entrada na mente de cada ser humano, dos sentimentos abnegados que cada um pode exprimir, e deste modo a relação interpessoal nesta vida terrena fosse propiciadora de um ambiente sereno que proporcionasse uma forma saudável de suportar as inquietudes da mortalidade…



02/07/09

Construção das sociedades séc.XXI

Prisões são "armazéns" de pobres
02.07.2009, Ana Cristina Pereira - Público

Professor da Universidade da Califórnia abriu V Conferência Latina de Redução de Riscos
Bernard Madoff, o administrador de uma sociedade de investimento condenado a 150 anos de prisão por um tribunal de Nova Iorque, "é uma excepção". As cadeias americanas estão cheias de pobres, clarificou ontem, no Porto, o sociólogo francês Loïc Wacquant, na abertura da V Conferência Latina de Redução de Riscos.
"Estamos na era pós-industrial", começou por explicar o professor da Universidade da Califórnia. Para trás vai ficando o "Estado de bem-estar social, com uma certa protecção que depende de um trabalho estável, assalariado". Nas sociedades avançadas, como os EUA ou a França, nos últimos 30 anos, disparou o número de reclusos. Isso "faz parte de uma reestruturação mais alargada relacionada com o desaparecimento (até Setembro último) do Estado económico; a transformação do Estado-providência em Estado disciplinador, que vigia os pobres; o crescimento das polícias, dos tribunais, das prisões". Para Loïc Wacquant, as prisões convertem-se em "armazéns de pessoas que não conseguem emprego", como toxicodependentes, doentes mentais. Têm "também por função disciplinar a classe trabalhadora reticente face aos novos empregos precários". Por todo o lado, o sociólogo vê transformar a luta contra o crime num espectáculo moral para reafirmar a autoridade do Estado. Políticas como a tolerância zero não levam a menos crise, avisou. Não geram emprego, educação, apoio social: "Políticas como a tolerância zero conduzem ao estado penal". O orador descreveu uma figura disforme: um estado com "uma cabeça liberal e um corpo autoritário". "As políticas neoliberais constroem estados liberais, laissez faire, laissez passer, no topo; e punitivos na base, vigilantes, autoritários, quando se trata de lidar com as consequências do laissez faire, laissez passer", defendeu. Seis em cada dez presos dos EUA são negros e hispânicos, apesar de estes dois grupos juntos representarem apenas 20 por cento da população, exemplificou. Metade não tinha terminado o ensino secundário ao ser detido, apesar de apenas 12 por cento do total dos residentes nos EUA não terem completado esse grau de ensino.

Retrato social do país

http://dn.sapo.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=1288348

Este relato demonstra que:

-há uma gradual degradação social do país
- a formação académica superior já não tem relevância na obtenção de emprego
- a geração mais jovem vai ter um estilo de vida grotesco e inexplicável
- existe uma geração de empresários sem consciência social e predadores económicos, em que exploram até não sobrar mais nada
- há falta de perspectivas laborais no país para as gerações vindouras
- vai existir uma enorme geração de idosos em condições precárias
-o individualismo competitivo será o mote quotidiano dos individuos
- a lenta e inexorável concentração em grandes cidadades, onde se disponibilizam os serviços que estão a ser extintos no interior do país
- a inevitável sul-americanização ou balcanização do país, com as instituições públicas em colapso e corruptas, e a criminalidade a estabelecer as regras de funcionamento da sociedade
- ninguém (excepto as elites governantes) tem assegurada uma vida economicamente confortável, estando sempre com a espada de Damôcles da pobreza permanentemente sobre as suas cabeças

01/07/09

Politica lucrativa



Têm os dois ar de sonso mas são o exemplo concreto de que a politica é tão lucrativa como os conselhos de administração das grandes empresas, contrariamente à ideia feita de que não compensa ser político. Criaram a famosa fundação rodoviária, de objectivos obscuros mas explicitamente financiada pelo orçamento de estado, e por causa disso foram demitidos. Contudo, ambos asseguraram lugares dourados e principescamente remunerados, fruto da sua colocação governativa. Um antigo funcionário bancário que virou administrador por obra e graça da licenciatura fax da universidade independente e outro ocupa um posto de administração no instituto do turismo acumulando com outro na TAP. Ora aqui estão caras do clientelismo, compadrio e tráfico de influências…