31/12/09

30/12/09

Um mau ano

A título individual, cada um classifica o ano que passou de modo diferente: bom ou mau. Mas o ser humano pertence a uma espécie social e gregária, o que significa que a sobrevivência individual tem menos probabilidades. Deste modo, a titulo colectivo ainda não existiu um ano bom; todos foram maus porque continuam a persistir todos os males: pobreza, fome, falta de água, escravatura, guerra, etc.
Já chega de falsos optimismos: o próximo ano vai ser mau. Só será bom se os decisores políticos e os detentores da riqueza planetária se tornarem humanistas, o que obviamente é uma ideia ingenuamente utópica...

É preciso denunciar

Este casal de arquitectos tem um site na Internet (http://www.carloscastanheira.pt/), um gabinete em Vila Nova de Gaia, um portefólio nacional e internacional, publicitam a parceria com Siza Vieira, possuem uma moradia unifamiliar com várias divisões, e têm um filho no ensino secundário numa escola pública a usufruir da acção social escolar no escalão B!...
Para usufruírem deste direito social tiveram de apresentar um rendimento per capita entre 0,5 x IAS x 14 e 1 x IAS x 14, em que o IAS= €419,22. Este escalão dá direito a que a escola pague metade das despesas em visitas de estudo e nas despesas de aquisição de material escolar bem como refeições.

É credível que este casal com este currículo aufira rendimentos deste montante?
Que melhor exemplo demonstrativo da ineficácia da máquina fiscal, da injustiça social, da falta de ética e moral, e de um furto a todos os cumpridores?
Multiplique-se este exemplo pelas centenas de milhares que pululam pelo país e já se percebe o motivo do subdesenvolvimento nacional...

E continuam a idolatrar estas coisas...


Ladrões de gravata


A diferença em relação aos outros é só uma: não usam armas nem violência para roubar.

O perverso modelo sócio-económico

NA TERRA DA MISÉRIA E... DOS PORSCHES

POR CESALTINA PINTO – revista VISÂO

No Vale do Ave, não há empregos: há despedimentos, salários em atraso, lay off. O comércio ressente-se. Só
o Centro da Porsche não se queixa: em dois meses, fez metade das vendas de um ano
'Assim se faz Portugal. Uns vão bem e outros mal.» A canção de Sérgio Godinho não sai da cabeça, quando se vagueia pelo Vale do Ave. Em Vizela, Patrícia Oliveira, 32 anos, desatou a fazer tricô e croché. Os cachecóis vão crescendo, ao ritmo da sua impaciência. A região já não tem muito para oferecer a uma mulher como ela, com apenas o 6º ano de escolaridade, vítima de despedimento colectivo de uma têxtil-lar.
A estrada entre Braga e Guimarães dei­xa uma sensação de morte lenta. As fábri­cas, na berma da estrada, despertam-nos a nostalgia do que já foi grande, como a Outeirinho, a Lameirinho, a Riopele...
Em Guimarães, o condomínio privado Villas Flor é um sinal dos tempos. São 80 aparta­mentos de luxo, construídos no local onde já laborou uma grande empresa têxtil, de que só restou a fachada.
O soco no estômago espera-nos em Celeirós, Braga. O Centro Porsche foi inaugurado em Setembro mas, no fim de Outubro, as nuvens carregadas não ofus­cavam o brilho do interior. Rui Franco, só­cio-gerente, tinha razões para fazer estou­rar a rolha do champanhe que partilhava com os funcionários.
Ou seja: a Porsche vendeu 12 Panamera, em dois meses, quando o objectivo era vender oito num ano! Sendo que o pre­ço médio deste carro anda pelos 200 mil euros (o Turbo chega a 225 mil euros e também já estava vendido). «Só esta ma­nhã vendemos quatro e já temos pedidos para entregas em 2010.» Rui Franco não podia estar mais satisfeito. Antes de inau­gurar o stand, tinha já 40 clientes em lista de espera. E se a intenção era negociar 50 unidades num ano, o certo é que, em nove semanas, já vendeu vinte e cinco.
Quem compra carros pelo preço de um T2 ou de um T3? «Vendemos para todo o País, mas 40% estão na Zona Norte. Te­mos o feirante, o empresário e o jogador de futebol.» Sem identificar os clientes, lá deixa cair: «Um só empresário comprou três. E um empresário têxtil, da Trofa, levou um Cabriolet [140 mil euros].» Há quem peça para levantar os carros durante a noite, uma vez que o stand presta serviço durante 24 horas, incluindo na oficina. Es­tarão estes empresários entre aqueles que dizem ser impossível aumentar o ordena­do mínimo de 450 para 475 euros?

'NEM DEIXAM APRENDER!'

Esta é uma realidade na qual Patrícia não se move. Mas Francisco Vieira, do Sindi­cato Têxtil de Guimarães, tem perfeita consciência dela: um país esquizofréni­co, a duas velocidades, condimentado por laivos de imoralidade. Sente-se indigna­do pelo que vê e ouve. «Fui ameaçado de morte por um patrão porque lhe pus em causa o processo. Não pagava havia três meses, despediu os trabalhadores, fechou a fábrica. Mas queria abrir outra e contra­tar 40 trabalhadores. E tinha uma grande fila à espera. É preciso dar caça a isto!», desabafa, apontando a legislação que per­mite fechar e abrir empresas, continua­mente e com impunidade.

27/12/09

Alguns manda-chuva

Não estão todos, mas já é exemplificativo:

Da lista liderada por Américo Amorim, fazem parte as famílias e holdings pessoais de Belmiro de Azevedo, Alexandre Soares dos Santos, Espírito Santo, Pedro Queiroz Pereira, Pedro Maria Teixeira Duarte, Vasco de Mello, António Mota, Manuel Fino, Joe Berardo, Nuno Vasconcellos, Horácio Roque, Joaquim Oliveira, Fernando Nunes, Luís Silva e Pinto Balsemão. O activo bolsista destes investidores, tendo por base os critérios acima referidos, estava valorizado em aproximadamente 19 mil milhões de euros, uma fatia que corresponde a quase 10% da capitalização bolsista do índice PSI 20. Entre 2008 e 2009, este património valorizou 5300 milhões de euros, o que traduz um crescimento de 38% em relação à valorização registada no final de 2008.


É extraordinário e inconcebível como a corrente económica dominante continua a impor que este modelo capitalista é o melhor para o desenvolvimento humano...


25/12/09

Feliz Natal?!

Frontalmente, o ser humano precisa prioritariamente de comer e beber para se manter vivo, o seu principal objectivo. No passado longínquo, teria de escolher um local com recursos naturais suficientes para alimentar uma determinada quantidade de indivíduos. Hoje, tem de ter o dinheiro suficiente para comprar os recursos. E portanto, a sua vida fundamenta-se na execução de actividades que proporcionem o acesso ao vil metal. Essas actividades são executadas num contexto de darwinismo social, sendo um paradoxo em relação à ideologia da época natalícia: solidariedade, paz, harmonia, altruísmo.

A solidão que mais se evidencia nesta época é ilusória: refere-se a não estar acompanhado por outros corpos, a interagir e comunicar com eles. Na realidade, cada um é sempre solitário, porque mesmo acompanhado por corpos, sente, pensa, sem que nenhum dos presentes percepcione essas actividades. Além disso, age em prol da usa sobrevivência individual, o que implica muita actividade solitária.

No contexto de relacionamento cortês e interesseiro- em que cada um se borrifa para o outro mas mantém uma relação cordial porque nunca se sabe quando um dia o outro lhe pode ser útil- é fátuo os votos que anualmente todos se desejam uns aos outros.

Os homens ditos santos- Cristo, Buda, etc.- tentaram pela palavra e acção demonstrar que existe o verdadeiro altruísmo, amor ao próximo, como a melhor opção de organização social. Com insucesso, como se constata no quotidiano: cada um manobra no sentido de obter os melhores proventos, mesmo que prejudique os outros.

Um dia como outro qualquer do ano: apenas simbólico mas sem simbolismo. Muitos milhões encaram o dia como um feriado, um dia em que não trabalham e dedicam ao lazer; e pelo caminho, a época do ano em que se aproveita para comprar os itens mais onerosos, numa fugaz sensação de felicidade e satisfação.

O sentido da vida esmorece, porque tudo se resume a possuir os bens materiais para sobreviver neste planeta…

21/12/09

Para recordar

Já está esquecida a desumanidade do anterior governo. Talvez este momento inspirado relembre esses tempos recentes:


Os Malefícios da Rivalidade na Escola

Poucas serão as escolas em que o mestre não anime entre os alunos o espírito de emulação; aos mais atrasados apontam-se os que avançaram como marcos a atingir e ultrapassar; e aos que ocuparam os primeiros lugares servem os do fim da classe de constantes esporas que os não deixam demorar-se no caminho, cada um se vigia a si e aos outros e a si próprio apenas na medida em que se estabelece um desnível com o companheiro que tem de superar ou de evitar. A mesquinhez de uma vida em que os outros não aparecem como colaboradores, mas como inimigos, não pode deixar de produzir toda a surda inveja, toda a vaidade, todo o despeito que se marcam em linhas principais na psicologia dos estudantes submetidos a tal regime; nenhum amor ao que se estuda, nenhum sentimento de constante enriquecer, nenhuma visão mais ampla do mundo; esforço de vencer, temor de ser vencido; é já todo o temperamento de «struggle» que se afina na escola e lançará amanhã sobre a terra mais uma turma dos que tudo se desculpam. Quem não sabe combater ou não tem interesse pela luta ficará para trás, entre os piores; e é certamente esta predominância dada ao espírito de batalha um dos grandes malefícios dos sistemas escolares assentes sobre a rivalidade entre os alunos; não se trata de ajudar, nem de ser ajudado, de aproveitar em comum, para benefício de todos, o que o mundo ambiente nos oferece; urge chegar primeiro e defender as suas posições; cada um trabalhará isolado, não amigo dos homens, mas receoso dos lobos; o saber e o ser não se fabricam, para eles, no acordo e na harmonia; disputam-se na luta. Urge quanto antes alargar a reforma radical que as escolas novas fizeram triunfar na experiência; que só haja dois estímulos para o trabalho nas aulas: a comparação de cada dia com o dia anterior e com o dia futuro e o desejo de aumentar o valor, as possibilidades do grupo; por eles se terá a confiança indispensável na capacidade de realizar e a marcha irresistível da seta para o alvo; por eles também o sentido social, o hábito da cooperação, a tolerância e o amor que gera a convivência em vez de um isolamento de caverna e de uma agressividade permanente; a vitória de uma ideia de paz sobre uma ideia de guerra.
Agostinho da Silva, in 'Considerações'

Para a Salvação da Democracia

Ora a democracia cometeu, a meu ver, o erro de se inclinar algum tanto para Maquiavel, de ter apenas pluralizado os príncipes e ter constituído em cada um dos cidadãos um aspirante a opressor dos que ao mesmo tempo declarava seus iguais. Ser esmagada pelos condottieri que dispõem das lanças mercenárias ou pela coalizão dos que manejam o boletim de voto é para a consciência o mesmo choque violento e o mesmo intolerável abuso; um tirano das ilhas vale os trinta de Atenas e os milhares de espartanos. Pode ser esta a origem de muita reacção que parece incompreensível; há almas que se entregaram a outros campos porque se sentiam feridas pela prepotência de indivíduos que defendiam atitudes morais só fundadas na utilidade social, na combinação política. E de facto, o que se tem realizado é, quase sempre, um arremedo de democracia sem verdadeira liberdade e sem verdadeira igualdade, exactamente porque se tomou como base do sistema uma relação do homem com o homem e não uma relação do homem com o espírito de Deus. Por outras palavras: para que a democracia se salve e regenere é urgente que se busque assentá-la em fundamentos metafísicos e se procure a origem do poder não nos caprichos e disposições individuais, mas nalguma coisa que os supere e os explique, aprovando-os ou reprovando-os. O indivíduo passaria a ser não a fonte mas o canal necessário ao transporte das águas; nenhuma autoridade sem ele, nenhuma autoridade dele. Seria assim possível sacudir de vez as morais biológicas que nos têm proposto e, construindo um decálogo sobre os princípios divinos, ligar-lhe indissoluvelmente a política com uma simples extensão ou como outro aspecto de uma idêntica actividade. Não vejo outro alicerce senão o entendimento, o que, fazendo do animal a pessoa, ao mesmo tempo se coloca acima do indivíduo e se impõe como norma universal; e as maiorias, assim, só viriam a obrigar quando as suas resoluções coincidissem com a razão e com os fins últimos que a Humanidade se propõe atingir.
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

Um povo culto

Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno.
Agostinho da Silva, in 'Diário de Alcestes'

17/12/09

Colectânea de ódio

1. Será que esta classe não para com as suas atitudes circenses? Basta de reivindicações num País em crise onde são sempre os mesmos a pagá-la. São estes Senhores que menos trabalham: 12/14 horas por semana de 4 dias úteis durante 8 meses pois, têm 4 de férias mas, recebem bem e pontualmente durante 14. Grande parte deles arrastam-se pelas Escolas sem qualquer horário. Como exemplo e para se ter uma noção do que é o vencimentos destes Senhores vou relembrar os 3 últimos escalões: 245 - 2227,93; 299 - 2718,99; 340 - 3091,82 ao que acresce 4,27 euros diários (dias úteis) se subsídio de refeição. O Povo/Contribuinte está farto de tantas exigências e tão pouca produtividade pois são estes que passam a vida a dar no duro para que, os ditos, levem uma vida animada e de luxúria. São os únicos que quanto mais anos têm de serviço e mais experiência, têm redução de Horário e melhor vencimento. São bem pagos para não trabalhar. Que País este onde vivo e tão fracos Governos tem tido, que não consegue pôr a trabalhar os que mais ganham e melhores regalias sociais possuem!!!!!! O Povo/Contribuinte deveria ser chamado a decidir sobre esta classe profissional de empregados do Estado.

2. Uma vez mais, uma das trupes de parasitas deste país vai ganhar. Para protestar, fazer greves e viagens a Lisboa têm tempo. Para melhorarem não. A satisfação de muitos (como eu) é que são, cada vez mais, vistos como parasitas da sociedade, usurpadores da riqueza criada pelo país e como responsáveis pela educação miserável dada às crianças/jovens deste país. Dizem que a culpa é do ministério/ministro. Mas se são eles que mandam no ministério/ministro da educação, podemos concluir que a culpa é deles. Professores? Não. Choradores. É que não fazem mais nada do que reclamar. Alguém lhes dá uma chupeta?

3. Esta Ministra da Educação é uma vergonha e um atentado aos Portugueses. Verga, porque de educação não sabe nada, ao oportunismo dos sindicatos dos professores. Quer dar uma de porreira, como aqueles professores incompetentes que nem escrever sabem e dão notas altas aos alunos para que estes os não chateiem, e dá aos sindicatos tudo o que estes exigem. Desrespeita quem, antes dela, esteve com dignidade e coragem no posto que ela ocupa. Onde está o corajoso Sócrates? Que pesadelo é este Portugal. Que ministra indigna do lugar que ocupa... Que vergonha!

4. É a hora de aproveitar o desgoverno, tudo que mexe com classes profissionais que representam muitos votos, o governo abre as ditas... e não só o governo até a oposição dá tudo. Quem vai pagar tudo isto?, querem que vos diga? os suspeitos o costume, o zé contribuinte, não funcionário público. Por favor entreguem este pedaço de terreno á Espanha, eu sei, eles não vão querer, mesmo de graça, mas está comprovado que os milages, às vezes, acontecem.

COMENTÁRIOS COLOCADOS EM:

http://www.publico.clix.pt/Educação/ministerio-assume-a-fenprof-que-professores-com-bom-terao-acesso-ao-topo-da-carreira_1414238

O ódio, a inveja mesquinha persiste. Só uma amostra do que se ouve na rua. Os docentes deviam mandar todos para a p*** que os pariu e demitirem-se em bloco todos os 150 000 ‘parasitas’ do sistema educativo, como ameaçaram os enfermeiros finlandeses o ano passado, e que fizeram baixar a bola ao governo finlandês. Mas como os docentes são escravos e temerosos, vão continuar a ser enxovalhados porque estão f*******: precisam da m**** do dinheiro para viver, e portanto, prostituem o seu estatuto social, em prol de uma cambada de ingratos que não reconhecem que sem o sistema educativo, mesmo que mediano, os seus filhos estavam entregues à bicharada e a maioria deles seria delinquente...

16/12/09

Efeitos da avaliação

Quando em 2005, o governo socialista liderado pelo indescritível PM, implementou a tão propalada reforma da Administração Pública, o cavalo de batalha largamente utilizado foi a avaliação dos funcionários, tendo sido apresentado como a panaceia que iria aumentar a eficiência e produtividade do Estado. No final destes anos, e após a publicação dos resultados da dita avaliação (exceptuando em alguns sectores), o que mudou?
Mais conflitualidade, ressentimento, vingança e represálias pessoais, clima de medo e repressão, ou seja, tudo o que contribui para a diminuição da eficiência e produtividade.
O cidadão pode afirmar peremptoriamente que os serviços melhoraram significativamente? Pelo estado de alma emanado pela população, a resposta é francamente negativa...
Seguindo o raciocínio cientifico, conclui-se que a panaceia não foi mais do que atirar areia para os olhos e um formidável método de poupar euros em salários...

Um dilema ético perturbante

IEFP afasta jurista por actuar de forma isenta e imparcial

Pode até parecer absurdo, mas o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) afastou do serviço um dos seus mais antigos advogados, só porque este insistia em manter uma postura de isenção e imparcialidade.

"Não acompanha os desafios e objectivos" propostos e "necessita de ter outro tipo de estímulo e de experiência dentro da nossa organização", escreveu a directora dos Recursos Humanos da Delegação Norte na proposta de afastamento do advogado. Para o jurista a questão é, no entanto, outra, já que antes a directora o havia criticado pela sua postura de "isenção e imparcialidade" face à lei, advertindo-o de que lhe poderia "prejudicar a carreira". A direcção do IEFP diz que aquela não é a posição do instituto: "Não é a posição do IEFP, nem julgo que alguma vez a dita funcionária o tenha dito", frisa a resposta, por correio electrónico, às questões do PÚBLICO.

O facto é que o escreveu: "Tenho sentido que olha para a lei com a isenção e imparcialidade de um juiz que a tem de aplicar. Contudo, é advogado do IEFP. É certo que o IEFP prossegue o interesse público, mas [você] prossegue outro objectivo, a saber: empregar os seus conhecimentos a favor do IEFP, numa óbvia perspectiva de parcialidade e de pouca isenção em abono do seu cliente. Tudo o que fizer ao contrário deste princípio prejudica a sua carreira", assim escreveu a directora num documento que dirigiu ao advogado e que este apresentou agora no Tribunal do Trabalho.

Aqui está um tema de interessante reflexão. Um advogado deve ou não deve possuir e praticar valores humanos, éticos e morais?
Neste contexto, compreende-se que para exercer a advocacia tem de se possuir um determinado perfil. Numa perspectiva profissional, o advogado tem de defender o cliente, independentemente de ter razão ou não. Nesta perspectiva, um advogado não aplica os tais valores morais e éticos, utilizando a manipulação, a falsidade, a argúcia, a desonestidade, para exercer uma representação eficaz. Ou seja, o fim justifica os meios. Numa perspectiva humana, um advogado não é digno de confiança, tornando-se um pária, devido à necessidade da sua acção ter de ser eficaz. Qualquer declaração de um advogado em exercício de funções tem de ser objecto de escrutínio critico muito rigoroso.
Portanto, por um lado a directora tem razão e por outro revela os valores pelos quais se rege a sociedade humana, o que não é nada tranquilizante.
Por isso, considero que quem possui e pratica os tais valores jamais pode exercer a advocacia de forma competente. Também se conclui que o Estado, quando lhe convém, usa de má-fé e de expedientes para se furtar à aplicação dos valores éticos e morais, de que deveria ser o pioneiro a praticar.

13/12/09

Um exemplo extraordinário

Por mero acaso, ao fazer zapping num dia frio, esbarrei no Discorey Channel. O que me chamou a atenção foi ver uma cara europeia vestida com uma indumentária indiana. No final do documentário, aprofundei a pesquisa e obtive algo que há muito defendo acerrimamente: o capitalismo humanista. Contextualizando, na Índia vive um francês (de seu nome Christian R. Fabre) que se converteu ao hinduísmo e é empresário de uma indústria têxtil de sucesso, com lucros superiores a $300 milhões anuais. O extraordinário desta história, é que a adversidade que atingiu este homem o tornou verdadeiramente humanista e não em mais um indivíduo ressabiado que se rege pelo darwinismo social. Este homem foi viver para a Índia com a família na década de 70, estabelecendo-se no negócio das peles para vestuário. Por acção do governo indiano, perdeu o trabalho, ficando na indigência. A mulher e o filho retornaram a França deixando-o sozinho. Obteve um emprego mal remunerado na indústria têxtil e com as poupanças que foi obtendo, investiu em maquinaria e lançou-se no negócio têxtil com um sócio indiano (que ainda hoje se mantém, na empresa denominada Fashions International). Entretanto, conhece o hinduísmo e converte-se totalmente, ao ponto de se propor para a função de swami (monge, adoptando o nome de Swami Pranavananda Brahmendra Avadhuta). E assim se manteve até à actualidade, trajando unicamente as vestes de monge e gerindo o seu negócio.

O método de gestão é inigualável no mercado industrial e comercial actual:


- 60% dos lucros da empresa são distribuídos por todos os que trabalham na organização (desde o executivo até ao trabalhador na produção). O resultado é que os trabalhadores são os melhores remunerados de toda a Índia neste sector. Não há exploração, maus-tratos, falta de condições de higiene e/ou segurança, obtendo sempre lucros anuais.


- Swami só aufere um salário de $200 mensais e vive numa moradia extremamente simples.


- Desde a fundação da empresa nunca foram despedidos trabalhadores


- O negócio é feito na base da honestidade total: o comprador sabe que a empresa tem um lucro fixo de $2,5 em cada peça que vende e tem de assumir o compromisso de respeitar regras de ética empresarial. Swami determina que só faz negócio com compradores que também apliquem a ética e moral no negócio; caso contrário, prefere não firmar contrato, mesmo que isso implique perder milhões de lucro.


- Swami vive uma vida simples, sem bens materiais (excepto um pc portátil e telemóvel). Portanto, nada de iates, moradias luxuosas, salários milionários, regalias sumptuosas ou quaisquer outras mordomias (cartão de crédito, automóveis, aviões, etc.).


Muitos cínicos do mundo empresarial ao conhecerem este exemplo certamente comentariam sobre a ingenuidade do homem; contudo, a sua empresa mantém-se com lucros, mesmo num mundo pejado de predadores empresariais insensíveis e desumanos.

Este exemplo devia ser esfregado na cara dos muitos empresários e administradores executivos das multinacionais e grandes grupos económicos, bem como na de todos os políticos, para refutar inequivocamente que as ideologias capitalistas que repetidamente tentam impor, são totalmente ineficazes na distribuição da riqueza.

Está aqui um exemplo do que devia ser o capitalismo: direccionado para o bem-estar de todos e não só de alguns.


Citações de Swami

- De cada vez que um jornalista vem ter comigo, a sua primeira pergunta é: Como pode ser um monge e CEO [administrador executivo, empresário]?

A minha resposta é sempre a mesma: quando alguém está apaixonado, está apaixonado po tempo todo. Não existe nenhum momento em que não esteja apaixonado. Desde o momento em que acorda de manhã até adormecer à noite depois de um dia de trabalho. Durante essas horas todas, quer tenha estado fisicamente ou não com a pessoa que ama, nunca cessou de estar apaixonado. No entanto, ele cumpriu as sua funções como amante, marido, amigo, esposa, filho ou filha, homem ou mulher, empregado ou administrador. Passa-se o mesmo comigo. Sou sempre um monge, um homem espiritual, (…) independentemente do que esteja a fazer…

- Despertar é muito mais do que uma crença. Podemos mudar a crença mas não podemos escapar do despertar. Despertar que sou tu…que a minha equipa de trabalhadores me fez compreender que a sua felicidade vem em primeiro lugar.

Que melhor recompensa que a felicidade dos nossos amigos da Fashions International quando eles recebem ordens boas ou um novo cliente ou quando eles recebem a sua parte do rendimento da empresa. Sim não só eles recebem o seu salário mensal e os benéficos sociais, como também recebem uma parte do rendimento da empresa, não lucro…rendimento.

O que é que maior rendimento pessoal iria trazer para mim? Mais vestes do que esta? Mais comida do que o meu estômago pode acomodar? Jóias? Não preciso de nada disso tal como não preciso de parecer rico…


Ver mais em:


http://www.colegiadodharmaparishad.com.br/Mentalidade%20empresarial%20da%20nova%20era.htm


http://www.nytimes.com/2004/12/04/business/worldbusiness/04iht-wbspot04_ed3_.html


http://news.bbc.co.uk/2/hi/south_asia/3094780.stm


http://www.bookofjoe.com/2004/12/ceo_of_the_year.html


http://ashejournal.com/index.php?id=11


http://chaisamosa.net/index.php/interview/20080512185/french-businessman-in-india-is-a-swami-against-the-tide/menu-id-384html


08/12/09

Degradação moral

Futebol
Treinador ordena golo na própria baliza
08-12-2009

Giuseppe Pillon é o homem do momento em Itália. O treinador do Ascoli, equipa da II divisão de Itália, ordenou que a sua equipa sofresse um golo depois de os seus jogadores terem marcado enquanto um dos adversários do Regina recebia assistência médica. O gesto de Pillon pode ser um exemplo de fair play para muitos desportistas, mas foi muito mal interpretado pelos adeptos do Ascoli, que já exigiram ao clube que abrisse um processo disciplinar ao treinador. O facto de a equipa estar no 19º lugar na série B também não ajuda a paciência dos sócios.

Esta atitude darwinista das sociedades é que vai ser a perdição das mesmas e a barreira eterna à implementação da harmonia social. Os valores éticos e morais são desprezados em nome do materialismo, com consequências ao nível da organização social, que tendencialmente se torna cruel.
Se as atitudes moralmente correctas são censuradas e reprimidas, então o que resta?

A onda obsessiva da avaliação

Parece que é a panaceia que vai resolver os males da Humanidade: avaliar. Uma herança da ideologia capitalista, que preconiza que a avaliação determina uma melhor produtividade e cumprimento das regras. Pela quantidade de fraudes concretizadas por elementos de topo dos grupos económicos, supostos avaliadores daqueles que trabalham para eles, nota-se a eficácia da avaliação…
Este instrumento é muitas vezes um método subrepticio de repressão do indivíduo, condicionando-o na sua liberdade e cidadania, com o objectivo de o domesticar e subjugar ao status quo vigente. A avaliação existe exactamente com este intuito, porque a natureza humana é fatalista, e infelizmente, aquilo que devia ter uma função formativa, á aplicada com uma função eminentemente repressiva e penalizadora.
A avaliação construtiva é aquela em que o individuo a busca voluntariamente como um ponto de referência à melhoria das suas capacidades e competências, das quais a comunidade onde se insere vai beneficiar. Contudo, a avaliação que tem sido implementada é com o objectivo de castigar em vez de formar…

A mentira

Vivemos na democracia. Esta é a grande mentira para toda uma geração que foi educada e criada no contexto cultural de um (suposto) regime democrático. Para a geração mais velha, não existe um choque cultural forte, porque já foi educada e criada num contexto de ditadura, pelo que se adaptaram a viver quotidianamente nesse ambiente. Para os outros, é um choque cultural verificarem que a praxis é oposta ao que se diz, pois o regime repressivo continua e recomenda-se. O anonimato, a clandestinidade, o sussurro receoso, ainda se utilizam para manifestar ideias ou opiniões. Quem não as utiliza, sofre com a represália económica ou financeira, com a ameaça velada, e é nesse momento que constata que afinal os métodos que considerava pertencendo à História, ainda subsistem, como se nunca tivessem sido extintos.