31/12/10

Fogo artificial

E continua por 2011...
Milhares de euros a estourar pólvora colorida na atmosfera para alienar durante breves minutos a multidão. Em rigor, devia ser por motivos fundamentados, de alegria e celebração; mas enquanto mais de metade da população humana viver na pobreza, o fogo de artificio é mera hipocrisia...







Liderança medíocre

Recebido por e-mail e que subscrevo:

Enquanto o hipócrita debitava o discurso de Natal, era publicado no DR de 24/12(!) o diploma legal que vai enterrar o país por muitos anos. O descaramento asqueroso: discursar na TV propaganda politica optmista, quando já tinha assinado a sentença de morte...

Na Educação, a novidade(?) de se extinguir a AP do 12º, despedir 5000 professores com previsão para 15000 a partir de Setembro, e reduzir o suplemento salarial da Direcção das escolas quando em 2008 foi unilateralmente modificado pelo ME. Na Saúde, os actos médicos serão escrutinados em função do que se gasta e não em função da necessidade do doente. Enfim...

Com a quantidade de dinheiro que circula diariamente no mercado bolsista e financeiro, argumentar que não existe financiamento é tratar-nos como atrasados mentais e nós deixamos...

Para quem nunca experimentou a angústia e a sensação de depressão, vá-se preparando, porque este será o pior final de ano das últimas dezenas de anos...

Já todos sobejamente sabem o que nos espera e por isso este será o último comentário sobre o tema. Apenas alerto que os trabalhadores do Estado, incluindo professores, se preparem para o impensável há uns anos atrás: o despedimento. Será inevitável, como atestam os diplomas legais publicados, e portanto, convém começar a pensar noutras formas de sustento. Por causa do efeito dominó, todos os outros trabalhadores vão sofrer os mesmos efeitos, sem a rede protecção social que existia. Aquilo que só conheciam nos livros de história, muitos vão experimentá-lo no quotidiano: escravidão laboral, violência social frequente, violência moral (mobbing) no local de trabalho, pobreza, qualidade de vida diminuta. Ai de quem é criança, doente ou idoso porque os que estão no meio não podem ajudá-los, porque não possuem rendimentos e estão demasiado ocupados a sobreviver...!

Merda de país, merda de dirigentes e merda para todos nós que não fomos educados a lutar contra a opressão politica e económica. Mataram o nosso futuro e os dos nossos filhos!...

Meus caros, até algures e boa sorte porque os milagres estão de férias...

29/12/10

O resultado do capitalismo neoliberal (selvagem)

A falência do Estado leva a uma organização social que existiu há milénios atrás, baseada no poder pela força física. Esta falência é decorrente da imposição do modelo capitalista selvagem, liberal, sem regulação. Eis um exemplo do que pode acontecer em qualquer parte do mundo, incluindo o ocidental:

CIUDAD JUAREZ, Mexico – The last remaining police officer in the Mexican border town of Guadalupe has disappeared, and prosecutors in northern Chihuahua state said Tuesday they have started a search for her. Twenty-eight-year-old officer Ericka Gandara held out despite the desertions and resignations that left her as the only officer in the Juarez Valley town, which was served by eight police a year ago. But Gandara hasn't been seen since Dec. 23. While some local media have reported Gandara was kidnapped, prosecutors' spokesman Arturo Sandoval said her relatives have not filed a kidnap complaint. Sandoval said the search was started Monday as a missing-person case.The same day she disappeared, assailants also set fire to the home of a Guadalupe town councilwoman. The Sinaloa and Juarez drug cartels have been battling for control of the Juarez Valley, leading many residents to flee across the border to Texas or to other Mexican cities. Most police officers, outgunned by the drug cartels, have resigned and officials say few people are willing to take their place. The burden of law enforcement has increasingly fallen on a few women. In the neighboring town of Praxedis G. Guerrero, a 20-year-old woman was sworn in as police chief in October. The man who previously held that office had been gunned down in July 2009 and the town had been unable to find a replacement for more than a year. The drug gangs are trying to control the valley's single highway, a lucrative drug trafficking route along the Texas border.

25/12/10

Refelexão para o próximo ano (e seguintes...)

A cidade de Seattle recebeu o nome do chefe índio dos Suquamish, cujo discurso foi a resposta a um tratado proposto pelo presidente americano tentando persuadir os indígenas a venderem dois milhões de acres por US$ 150000 (cento e cinquenta mil dólares americanos).


Resposta do Chefe Seattle ao Presidente dos Estados Unidos -1854

Como é que se pode comprar ou vender o céu, o calor da terra?
Essa ideia parece-nos estranha.
Se não possuímos o frescor do ar e o brilho da água, como é possível comprá-los?
Cada pedaço desta terra é sagrado para meu povo.
Cada ramo brilhante de um pinheiro, cada punhado de areia das praias, a penumbra na floresta densa,
cada clareira e insecto a zumbir são sagrados na memória e experiência de meu povo.
A seiva que percorre o corpo das árvores, carrega consigo as lembranças do homem vermelho.
Os mortos do homem branco esquecem sua terra de origem quando vão caminhar entre as estrelas.
Nossos mortos jamais esquecem esta bela terra, pois é a mãe do homem vermelho.
Somos parte da terra e ela faz parte de nós.
As flores perfumadas são nossas irmãs, o cervo, o cavalo, a grande águia são nossos irmãos.
Os picos rochosos, os sulcos húmidos nas campinas, o calor do corpo do potro e o homem - todos pertencem à mesma família.
Portanto, quando o Grande Chefe em Washington manda dizer que deseja comprar nossa terra, pede muito de nós.
O Grande Chefe diz que nos reservará um lugar onde possamos viver satisfeitos.
Ele será nosso pai e nós seremos seus filhos.
Portanto, nós vamos considerar sua oferta de comprar nossa terra. Mas isso não será fácil.
Esta terra é sagrada para nós.
Essa água brilhante que escorre nos riachos e rios não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados.
Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se de que ela é sagrada, e devem ensinar às suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo.
O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos, saciam nossa sede.
Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças.
Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nosso irmãos, e seus também.
E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicarem a qualquer irmão.
Sabemos que o homem branco não compreende nossos costumes.
Uma porção de terra para ele, tem o mesmo significado que qualquer outra coisa, pois é um forasteiro que vem à noite e extrai da terra, aquilo que necessita.
A terra não é sua irmã, mas sua inimiga e, quando ele a conquista, prossegue seu caminho. Deixa para trás os túmulos de seus antepassados e não se incomoda.
Arranca da terra aquilo que seria de seus filhos e netos.
A sepultura de seu pai e os direitos de seus filhos são esquecidos.
Trata a sua mãe, a terra, e seu irmão, o céu, como coisas que possam ser compradas, saqueadas, vendidas como carneiros ou enfeites coloridos. Seu apetite devorará a terra, deixando somente um deserto.
Eu não sei, os nossos costumes são diferentes dos seus.
A visão de suas cidades fere os olhos do homem vermelho.
Talvez seja porque o homem vermelho é um selvagem e não compreenda.
Não há um lugar quieto nas cidades do homem branco.
Nenhum lugar onde se possa ouvir o desabrochar das folhas na primavera ou o bater das asas de um insecto.
Mas talvez seja porque eu sou um selvagem e não compreendo.
O ruído parece somente insultar os ouvidos.
E o que resta da vida se um homem não pode ouvir o choro solitário de uma ave ou o debate dos sapos ao redor de uma lagoa, à noite?
Eu sou um homem vermelho e não compreendo.
O índio prefere o suave murmúrio do vento, encrespando a face do lago, e o próprio vento, limpo por uma chuva diurna ou perfumado pelos pinheiros.
O ar é precioso para o homem vermelho, pois todas as coisas compartilham o mesmo sopro - o animal, a árvore, o homem, todos compartilhamos o mesmo sopro.
Parece que o homem branco não sente o ar respirar.
Como um homem agonizante há vários dias, é insensível ao mau cheiro.
Mas se vendermos nossa terra ao homem branco, ele deve lembrar que o ar é precioso para nós, que o ar compartilha seu espírito com toda a vida que mantém.
O vento que deu ao nosso avó seu primeiro inspirar também recebe seu último suspiro.
Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem mantê-la intacta e sagrada, como um lugar onde até mesmo o homem branco possa ir saborear o vento açucarado pelas flores dos prados.
Portanto, vamos meditar sobre sua oferta de comprar nossa terra.
Se decidirmos aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais desta terra como seus irmãos.
Sou um selvagem e não compreendo qualquer outra forma de agir.
Vi um milhar de búfalos apodrecendo na planície, abandonados pelo homem branco que os alvejou de um comboio que passava.
Eu sou um selvagem e não compreendo como é que o fumegante cavalo de ferro pode ser mais importante que o búfalo, que sacrificamos somente para permanecermos vivos.
O que é o homem sem os animais?
Se todos os animais se fossem, o homem morreria de uma grande solidão de espírito. Pois o que ocorre com os animais, breve acontece com o homem.
Há uma ligação em tudo.
Vocês devem ensinar às suas crianças que o solo a seus pés é a cinza de nossos avós. Para que respeitem a terra, digam a seus filhos que ela foi enriquecida com as vidas de nosso povo.
Ensinem às suas crianças o que ensinamos às nossas, que a terra é nossa mãe.
Tudo o que acontece à terra, acontecerá aos filhos da terra.
Se os homens cospem na terra, estão cuspindo em si mesmos.
Isto sabemos: a terra não pertence ao homem: o homem pertence à terra.
Isto sabemos: todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família.
Há uma ligação em tudo.
O que ocorrer com a terra recairá sobre os filhos da terra.
O homem não tramou o tecido da vida; ele é simplesmente um de seus fios.
Tudo o que fizer ao tecido, fará a si mesmo.
Mesmo o homem branco, cujo Deus caminha e fala com ele de amigo para amigo, não pode estar isento do destino comum.
É possível que sejamos irmãos, apesar de tudo.
Veremos.
De uma coisa estamos certos – e o homem branco poderá vir a descobrir um dia: nosso Deus é o mesmo Deus. Vocês podem pensar que O possuem, como desejam possuir nossa terra, mas não é possível.
Ele é o Deus do homem vermelho e Sua compaixão é igual para o homem vermelho e para o homem branco.
A terra lhe é preciosa e feri-la é desprezar o seu criador.
Os brancos também passarão: talvez mais cedo que todas as outras tribos.
Contaminem suas camas, e uma noite serão sufocados pelos próprios dejectos.
Mas quando de sua desaparição, vocês brilharão intensamente, iluminados pela força do Deus que os trouxe a esta terra e por alguma razão especial lhes deu o domínio sobre a terra e sobre o homem vermelho.
Esse destino é um mistério para nós, pois não compreendemos que todos os búfalos sejam exterminados, os cavalos bravios sejam todos domados, os recantos secretos da floresta densa impregnados do cheiro de muitos homens, e a visão dos morros obstruída por fios que falam.
Onde está o arvoredo?
Desapareceu.
Onde está a águia?
Desapareceu.
É o final da vida e o início da sobrevivência.

24/12/10

O herói anónimo

“Vocês mataram o futuro dos nossos filhos”, era o que estava escrito na T-shirt, referindo-se aos deputados da Assembleia. Este gesto relembra as imolações dos monges budistas protestando contra guerra do Vietname. Ao não ceder à tentação- que seria despoletar uma bomba colocada no corpo de modo a provocar o maior número de vítimas- , este homem protestou humanamente em nome de todos nós, vitimas da ganância e imoralidade de todos os detêm o poder e o usam meramente em proveito próprio. Cedeu a ser mártir para milhões de anónimos…

Constrangido por não ter a mesma coragem que ele, apenas me resta dedicar os meus pensamentos em sua memória…

Foi um protesto desesperado, feito enquanto o primeiro-ministro romeno, Emil Boc, discursava no Parlamento. Adrian Sobaru subiu ao corrimão da galeria e atirou-se de uma altura de sete metros. Sofreu vários traumatismos na cabeça e no resto do corpo, segundo o diário espanhol “El País”, mas os médicos dizem que não corre risco de vida.
Sobaru, na casa dos 40 anos, é pai de dois filhos e o seu protesto estará relacionado com os cortes anunciados pelo Governo. Levou para o Parlamento uma t-shirt onde se lia “vocês mataram o futuro dos nossos filhos” e saltou da galeria enquanto os deputados discutiam uma moção de censura contra o Governo que acabou por ser recusada.

http://publico.clix.pt/Mundo/electricista-romeno-atirouse-das-galerias-do-parlamento-em-bucareste_1472319

20/12/10

Felipe lembrou-se da história do Rei do Oriente que, desejando conhecer a história da humanidade, recebeu de um sábio quinhentos volumes; ocupado com negócios de Estado, pediu-lhe que a condensasse. Ao cabo de vinte anos, o sábio voltou e a sua história ocupava agora apenas cinquenta volumes; mas o rei, já velho demais para ler tantos livros volumosos, pediu-lhe que a fosse abreviar mais uma vez. Passaram-se de novo vinte anos, e o sábio, velho e encanecido, trouxe um único volume com os conhecimentos que o rei procurara; este, porém, estava deitado no seu leito de morte, nem tinha mais tempo de ler sequer aquilo. Aí o sábio deu-lhe a história da humanidade numa única linha: “Nasceram, sofreram, morreram”.

Somerset Maugham, in “A Servidão Humana”

03/12/10

O eterno retorno

Sinceridade

“Há uma guerra de classes, é um facto, mas é a minha classe, a dos ricos, que a conduz, e estamos em vias de a ganhar”. Warren Buffet, multimilionário, jornal New York Times (26/11/2006)

A 'rigidez' da lei laboral

Um dos insistentes argumentos usados pelos paladinos do neoliberalismo económico é a (suposta) rigidez laboral em Portugal, ou traduzindo, a dificuldade em despedir um trabalhador. Esta falácia é facilmente desmentida com as centenas de despedimentos colectivos céleres que foram feitos nos últimos anos; quando se fala em dificuldade, está-se referir que é difícil despedir sem indemnização, porque caso a entidade patronal esteja disposta a pagar, a dificuldade de despedir não existe. Além disso, de acordo com a informação da OCDE sobre o índice de rigidez das leis laborais em vários países (classificação de 0 a 6, sendo 6 o mais rígido), Portugal possui o índice 2,93, atrás da Espanha e a par com a França, estando próximo da Alemanha e Itália (2,39)…

Essa (suposta) rigidez é facilmente ultrapassada pela atitude de muitos empresários, como alguns exemplos a seguir relatados:

Um patrão, distribuidor da SAAB no norte do país, até um rotweiller pôs ao lado, durante uma reunião de confronto com um trabalhador. O caso resolveu-se com um acordo indemnizatório de apenas €6 mil. Rita Garcia Pereira relata um outro caso, em que um CEO de uma farmacêutica usou um chicote durante reuniões de avaliação de objectivos.

Aos quadros intermédios da France Telecom foi dada formação sobre como lidar com processos de mudança laboral. Terá sido numa dessas formações que ocorreu a estória do ‘gatinho’, contada prelo sociólogo Christophe Dejours. Para ilustrar o espírito competitivo e impiedoso do novo Deus-o mercado- foi pedido a uma dezena de formandos que, durante 5 dias tratasse de um gato apenas para no 6º dia o matarem. Só um dos alunos, uma mulher, não o fez; foi a única a ser enviada para tratamento psiquiátrico.” Revista Sábado