Professor da Universidade da Califórnia abriu V Conferência Latina de Redução de Riscos
Bernard Madoff, o administrador de uma sociedade de investimento condenado a 150 anos de prisão por um tribunal de Nova Iorque, "é uma excepção". As cadeias americanas estão cheias de pobres, clarificou ontem, no Porto, o sociólogo francês Loïc Wacquant, na abertura da V Conferência Latina de Redução de Riscos.
"Estamos na era pós-industrial", começou por explicar o professor da Universidade da Califórnia. Para trás vai ficando o "Estado de bem-estar social, com uma certa protecção que depende de um trabalho estável, assalariado". Nas sociedades avançadas, como os EUA ou a França, nos últimos 30 anos, disparou o número de reclusos. Isso "faz parte de uma reestruturação mais alargada relacionada com o desaparecimento (até Setembro último) do Estado económico; a transformação do Estado-providência em Estado disciplinador, que vigia os pobres; o crescimento das polícias, dos tribunais, das prisões". Para Loïc Wacquant, as prisões convertem-se em "armazéns de pessoas que não conseguem emprego", como toxicodependentes, doentes mentais. Têm "também por função disciplinar a classe trabalhadora reticente face aos novos empregos precários". Por todo o lado, o sociólogo vê transformar a luta contra o crime num espectáculo moral para reafirmar a autoridade do Estado. Políticas como a tolerância zero não levam a menos crise, avisou. Não geram emprego, educação, apoio social: "Políticas como a tolerância zero conduzem ao estado penal". O orador descreveu uma figura disforme: um estado com "uma cabeça liberal e um corpo autoritário". "As políticas neoliberais constroem estados liberais, laissez faire, laissez passer, no topo; e punitivos na base, vigilantes, autoritários, quando se trata de lidar com as consequências do laissez faire, laissez passer", defendeu. Seis em cada dez presos dos EUA são negros e hispânicos, apesar de estes dois grupos juntos representarem apenas 20 por cento da população, exemplificou. Metade não tinha terminado o ensino secundário ao ser detido, apesar de apenas 12 por cento do total dos residentes nos EUA não terem completado esse grau de ensino.
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