Há pouco tempo assisti a um colóquio sobre eutanásia, em que os oradores eram um juiz conselheiro do supremo tribunal de justiça e o dr. Pinto da Costa (especialista em medicina forense). O assunto versava a morte desejada pelo indivíduo que se considerava numa situação de insustentável qualidade de vida. Conhecendo o provérbio “há duas certezas na vida: pagar impostos e morrer”, o assunto revelava-se crucial e fundamental para o ser humano.
A grande diferença entre o ser humano e as outras espécies é que tem uma autoconsciencia da sua mortalidade, o que indicia uma certa crueldade para a nossa espécie. A (aparente) ausência de consciência da mortalidade por parte das outras espécies, coloca-as num plano metafísica mais confortável que a espécie humana. Esta finitude da vida levanta a eterna questão do sentido da vida: qual o objectivo de viver se sabemos que vai inevitavelmente existir um fim, independentemente do que se faça ou não? Qual o motivo da nossa existência na Terra se vamos desaparecer a prazo?
Provavelmente, 98% dos humanos criou mecanismos psicológicos para lidar com esta questão que atormenta a humanidade desde os seus primórdios racionais; esses mecanismos conduzem à alienação e ignorância voluntária da existência desse enigma angustiante. Normalmente, materializam objectivos que absorvem o seu ego filosófico e o adormecem, tais como obter sucesso profissional, o emprego, a aquisição sucessiva de bens materiais (automóvel, casa, vestuário, gadgets electrónicos, etc.), numa escalada progressivamente mais onerosa. O mesmo efeito produz o álcool e as drogas no alcoólico e no toxicodependente, respectivamente: alienam do sofrimento psicológico que cada um padece, anestesiando-o.
Assim, para os restantes 2%, o quotidiano tem uma perspectiva atroz: muito do que se faz parece inútil perante a evidência do fim. Um faraó com este dilema metafísico questionava o seu conselheiro se por acaso a morte trataria de modo diferente o faraó do seu escravo…
Já foram emitidas várias reportagens de pessoas em condições físicas muito debilitantes, como por exemplo tetraplégicas, que mostravam uma resiliência em viver naquelas condições. Existe uma certa falácia nesta abordagem: essas pessoas livraram-se involuntariamente do estúpido quotidiano que viviam, de ter um emprego, um salário, pagar as despesas, resolver os problemas diários. Nessas condições, e vivendo num pais civilizado, têm assegurado por parte da sociedade na pessoa do Estado, o sustento que necessitam para se manterem vivas, concentrando desse modo todas as energias em se manterem vivos. O individuo normal, sem emprego e sem recursos, não possui esse apoio, vivendo num sofrimento tão intenso como aquele em que essas pessoas vivem. Em ambos os casos não são condições normais de vida, e por isso, será que a eutanásia não seria válida para uns e outros que o desejassem? Uma tetraplégica afirmava peremptoriamente que se ficasse no estado vegetativo que não queria manter as funções vitais; será que um sem abrigo permanente, vivendo na rua e dos seus restos durante anos, não é uma forma vegetativa de viver?
Biologicamente, a vida e a morte têm sentido: o objectivo de cada individuo é manter-se vivo o tempo suficiente para que contribua para a perpetuação da espécie. A morte tem uma justificação para existir, permitindo criar um espaço ecológico para outro indivíduo; não criando esse espaço, a espécie poderia se extinguir por falta de recursos naturais que sustentassem todos. Portanto, o sexo é o objectivo final de cada indivíduo da sua espécie. Nesta perspectiva, a mortalidade tem uma justificação racional aceitável; contudo, a individualidade torna-se banal e inexistente, porque o que interessa é a manutenção da espécie como entidade colectiva e não a manutenção do indivíduo.
Para alguns, os indivíduos que questionam o sentido da vida, padecem de depressão ou são sintomas disso; porque será uma patologia questionar o evidente e disso se sentir angustiado por não conseguir encontrar resposta racional? A religião foi a resposta racional encontrada pela Humanidade. Analisando as várias religiões, de forma implícita ou explícita, todas elas se referem a uma imortalidade não terrena, revelando subrepticiamente que a morte física continua como uma questão insondável e destruidora do sentido da vida. A própria religião responde que esta vida física terrena tem sentido porque é uma passagem para a outra imortal; de outro modo, o seu sentido é difícil de o conhecer. Por isso, alguns humanos considerados excepcionais, dedicaram a sua vida na busca das respostas a estas questões milenares, tendo proposto métodos que conduziriam ao encontro das soluções. Tudo indica que eles as encontraram mas cada um de nós só terá a certeza quando a morte acontecer; até lá trilhamos os vários caminhos que existem que nos permite lidar com a eterna questão que nenhuma ciência respondeu. E se no patamar da ciência ainda acrescentarmos à equação insolúvel que muito ainda é cientificamente desconhecido no momento da morte, então encontrar a solução da equação torna-se colossal…!
“A morte é certa; a sua hora é incerta” era uma inscrição latina num mostrador de um relógio; esta única certeza deveria ter conseguido abrir as portas da percepção da Humanidade para que permitisse a entrada na mente de cada ser humano, dos sentimentos abnegados que cada um pode exprimir, e deste modo a relação interpessoal nesta vida terrena fosse propiciadora de um ambiente sereno que proporcionasse uma forma saudável de suportar as inquietudes da mortalidade…
A grande diferença entre o ser humano e as outras espécies é que tem uma autoconsciencia da sua mortalidade, o que indicia uma certa crueldade para a nossa espécie. A (aparente) ausência de consciência da mortalidade por parte das outras espécies, coloca-as num plano metafísica mais confortável que a espécie humana. Esta finitude da vida levanta a eterna questão do sentido da vida: qual o objectivo de viver se sabemos que vai inevitavelmente existir um fim, independentemente do que se faça ou não? Qual o motivo da nossa existência na Terra se vamos desaparecer a prazo?
Provavelmente, 98% dos humanos criou mecanismos psicológicos para lidar com esta questão que atormenta a humanidade desde os seus primórdios racionais; esses mecanismos conduzem à alienação e ignorância voluntária da existência desse enigma angustiante. Normalmente, materializam objectivos que absorvem o seu ego filosófico e o adormecem, tais como obter sucesso profissional, o emprego, a aquisição sucessiva de bens materiais (automóvel, casa, vestuário, gadgets electrónicos, etc.), numa escalada progressivamente mais onerosa. O mesmo efeito produz o álcool e as drogas no alcoólico e no toxicodependente, respectivamente: alienam do sofrimento psicológico que cada um padece, anestesiando-o.
Assim, para os restantes 2%, o quotidiano tem uma perspectiva atroz: muito do que se faz parece inútil perante a evidência do fim. Um faraó com este dilema metafísico questionava o seu conselheiro se por acaso a morte trataria de modo diferente o faraó do seu escravo…
Já foram emitidas várias reportagens de pessoas em condições físicas muito debilitantes, como por exemplo tetraplégicas, que mostravam uma resiliência em viver naquelas condições. Existe uma certa falácia nesta abordagem: essas pessoas livraram-se involuntariamente do estúpido quotidiano que viviam, de ter um emprego, um salário, pagar as despesas, resolver os problemas diários. Nessas condições, e vivendo num pais civilizado, têm assegurado por parte da sociedade na pessoa do Estado, o sustento que necessitam para se manterem vivas, concentrando desse modo todas as energias em se manterem vivos. O individuo normal, sem emprego e sem recursos, não possui esse apoio, vivendo num sofrimento tão intenso como aquele em que essas pessoas vivem. Em ambos os casos não são condições normais de vida, e por isso, será que a eutanásia não seria válida para uns e outros que o desejassem? Uma tetraplégica afirmava peremptoriamente que se ficasse no estado vegetativo que não queria manter as funções vitais; será que um sem abrigo permanente, vivendo na rua e dos seus restos durante anos, não é uma forma vegetativa de viver?
Biologicamente, a vida e a morte têm sentido: o objectivo de cada individuo é manter-se vivo o tempo suficiente para que contribua para a perpetuação da espécie. A morte tem uma justificação para existir, permitindo criar um espaço ecológico para outro indivíduo; não criando esse espaço, a espécie poderia se extinguir por falta de recursos naturais que sustentassem todos. Portanto, o sexo é o objectivo final de cada indivíduo da sua espécie. Nesta perspectiva, a mortalidade tem uma justificação racional aceitável; contudo, a individualidade torna-se banal e inexistente, porque o que interessa é a manutenção da espécie como entidade colectiva e não a manutenção do indivíduo.
Para alguns, os indivíduos que questionam o sentido da vida, padecem de depressão ou são sintomas disso; porque será uma patologia questionar o evidente e disso se sentir angustiado por não conseguir encontrar resposta racional? A religião foi a resposta racional encontrada pela Humanidade. Analisando as várias religiões, de forma implícita ou explícita, todas elas se referem a uma imortalidade não terrena, revelando subrepticiamente que a morte física continua como uma questão insondável e destruidora do sentido da vida. A própria religião responde que esta vida física terrena tem sentido porque é uma passagem para a outra imortal; de outro modo, o seu sentido é difícil de o conhecer. Por isso, alguns humanos considerados excepcionais, dedicaram a sua vida na busca das respostas a estas questões milenares, tendo proposto métodos que conduziriam ao encontro das soluções. Tudo indica que eles as encontraram mas cada um de nós só terá a certeza quando a morte acontecer; até lá trilhamos os vários caminhos que existem que nos permite lidar com a eterna questão que nenhuma ciência respondeu. E se no patamar da ciência ainda acrescentarmos à equação insolúvel que muito ainda é cientificamente desconhecido no momento da morte, então encontrar a solução da equação torna-se colossal…!
“A morte é certa; a sua hora é incerta” era uma inscrição latina num mostrador de um relógio; esta única certeza deveria ter conseguido abrir as portas da percepção da Humanidade para que permitisse a entrada na mente de cada ser humano, dos sentimentos abnegados que cada um pode exprimir, e deste modo a relação interpessoal nesta vida terrena fosse propiciadora de um ambiente sereno que proporcionasse uma forma saudável de suportar as inquietudes da mortalidade…
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