29/04/09

Colectivo vs individual

Num blog mediático (A Educação do meu umbigo), o seu autor escreveu isto:

Tornei-me gradualmente, ainda no início da idade adulta, um descrente em matéria de colectivos. Ainda mais dos colectivos por inacção ou daqueles em que os indivíduos se escondem por entre as massas.
Sei, por observação directa, que protegidos pela multidão, há indivíduos extremamente corajosos, que gritam a plenos pulmões a revolução total e outras coisas igualmente desinteressantes.
Por deformação, desconfio das tomadas de posição unanimistas, de braço no ar ou caído. Deve ser por isso que há quem me ache um bocado reaccionário, pois - apesar da prática de trabalho em equipa não me desagradar nada - sou fortemente individualista num sentido algo radical, ou seja, no de que cada indivíduo deve ser responsável pelos seus actos e não se acobertar atrás do colectivo.

O colectivo de que eu mais gosto - talvez mesmo o único - é aquele que se constrói pela soma das vontades e atitudes individuais, conscientes e livres. Não por pressão dos pares ou conveniências do momento.

Apesar de uma argumentação algo contraditória, a atitude individualista de luta é louvável e reveladora de uma integridade moral e ética. Contudo, é ineficaz e insensata. Num regime não democrático ou deficientemente democrático (como aquele em que vivemos) o cidadão comum sozinho não tem qualquer tipo de defesa contra as potenciais injustiças a que possa ser sujeito pelo sistema. A sua única defesa está no número, na união; se ele se integrar no colectivo dos outros cidadãos, obtém-se um mecanismo de defesa poderoso. Uma atitude solitária, não consegue provocar mudança e é sumariamente trucidada pelo sistema; uma atitude colectiva, dificilmente é trucidada e pode provocar mudança para cada indivíduo. Sugere-se que o somatório das atitudes individuais constroem o colectivo; apesar da lógica do raciocínio, este enferma da falta de coordenação: sem ela, o somatário apenas fica pelas parcelas. É necessário coordenar as parcelas, que cada uma saiba o que a outra faz, para que obtenha um resultado colectivo.
O que é preferível: que existam muitos cidadãos que só se manifestem a coberto da multidão ou que nem sequer se manifestem? Entre uns e outros, é de valorizar os que se manifestam; os outros, não correm nenhum risco, não abdicam, e se não existir mudança, resignam-se, mas se existir, usufruem dos benefícios sem terem mexido uma palha...
Portanto, não é intelectualmente correcto menosprezar os que se predispõem a se manifestar a coberto da multidão; há vários séculos atrás, Gengis Khan teve o discernimento de compreender este fenómeno e para convencer os seus generais da necessidade de fazer alianças com outras tribos, exemplificou da seguinte maneira: pegou numa seta e quebrou-a facilmente; depois, juntou um molho delas e ninguém as conseguiu quebrar...

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