Sobre um presidente de câmara municipal pendiam suspeitas de peculato; os indícios eram fortes mas daí a obter-se meios de prova vai uma distância grande. Foi absolvido em tribunal e já anunciou que não se recandidata. No quotidiano, os cidadãos comentam indignados a falta de honestidade e outros impropérios, mas a realidade nua e crua é que isso não afecta pessoalmente o autarca, porque tendo cumprido 3 mandatos, já garantiu uma pensão de reforma que lhe permite viver desafogadamente, enquanto que para o cidadão comum pende a espada de Dâmocles das dificuldades.
Seja primeiro-ministro, ministro, autarca, ou qualquer outro cargo superior da Administração Pública, com duvidoso carácter moral e ético, no regime actual, individualmente não sofre qualquer consequência: todos eles garantem o bem-estar material até ao fim dos seus dias. Que consequências sofre o PM sabendo que obteve uma licenciatura por tráfico de influências, ou envolvimento em actos decisórios obscuros? Mesmo ficando com a reputação social manchada, a nível pessoal garantiu o bem-estar e consequente qualidade de vida, porque quando abandonar o cargo tem direito a uma pensão de reforma, além de muito provavelmente ter garantido um cargo superior numa instituição nacional ou internacional.
Obviamente que o cidadão comum é contagiado por estas atitudes, e se não existisse a repressão- sob a forma de leis e forças de segurança- muito provavelmente seria a anarquia, porque todos iriam legitimamente procurar o melhor para si...
Deste modo, as elites produzem as leis para conter a população e evitar que esta também enverede por esquemas duvidosos, pelo simples facto que os recursos são limitados e não são suficientes para todos poderem retirar o seu pedaço...
E daí a pertinência do famoso refrão de uma música e autor que dispensam apresentações: “Eles comem tudo e não deixam nada...”
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