Por mero acaso, ao fazer zapping num dia frio, esbarrei no Discorey Channel. O que me chamou a atenção foi ver uma cara europeia vestida com uma indumentária indiana. No final do documentário, aprofundei a pesquisa e obtive algo que há muito defendo acerrimamente: o capitalismo humanista. Contextualizando, na Índia vive um francês (de seu nome Christian R. Fabre) que se converteu ao hinduísmo e é empresário de uma indústria têxtil de sucesso, com lucros superiores a $300 milhões anuais. O extraordinário desta história, é que a adversidade que atingiu este homem o tornou verdadeiramente humanista e não em mais um indivíduo ressabiado que se rege pelo darwinismo social. Este homem foi viver para a Índia com a família na década de 70, estabelecendo-se no negócio das peles para vestuário. Por acção do governo indiano, perdeu o trabalho, ficando na indigência. A mulher e o filho retornaram a França deixando-o sozinho. Obteve um emprego mal remunerado na indústria têxtil e com as poupanças que foi obtendo, investiu em maquinaria e lançou-se no negócio têxtil com um sócio indiano (que ainda hoje se mantém, na empresa denominada Fashions International). Entretanto, conhece o hinduísmo e converte-se totalmente, ao ponto de se propor para a função de swami (monge, adoptando o nome de Swami Pranavananda Brahmendra Avadhuta). E assim se manteve até à actualidade, trajando unicamente as vestes de monge e gerindo o seu negócio.
O método de gestão é inigualável no mercado industrial e comercial actual:
- 60% dos lucros da empresa são distribuídos por todos os que trabalham na organização (desde o executivo até ao trabalhador na produção). O resultado é que os trabalhadores são os melhores remunerados de toda a Índia neste sector. Não há exploração, maus-tratos, falta de condições de higiene e/ou segurança, obtendo sempre lucros anuais.
- Swami só aufere um salário de $200 mensais e vive numa moradia extremamente simples.
- Desde a fundação da empresa nunca foram despedidos trabalhadores
- O negócio é feito na base da honestidade total: o comprador sabe que a empresa tem um lucro fixo de $2,5 em cada peça que vende e tem de assumir o compromisso de respeitar regras de ética empresarial. Swami determina que só faz negócio com compradores que também apliquem a ética e moral no negócio; caso contrário, prefere não firmar contrato, mesmo que isso implique perder milhões de lucro.
- Swami vive uma vida simples, sem bens materiais (excepto um pc portátil e telemóvel). Portanto, nada de iates, moradias luxuosas, salários milionários, regalias sumptuosas ou quaisquer outras mordomias (cartão de crédito, automóveis, aviões, etc.).
Muitos cínicos do mundo empresarial ao conhecerem este exemplo certamente comentariam sobre a ingenuidade do homem; contudo, a sua empresa mantém-se com lucros, mesmo num mundo pejado de predadores empresariais insensíveis e desumanos.
Este exemplo devia ser esfregado na cara dos muitos empresários e administradores executivos das multinacionais e grandes grupos económicos, bem como na de todos os políticos, para refutar inequivocamente que as ideologias capitalistas que repetidamente tentam impor, são totalmente ineficazes na distribuição da riqueza.
Está aqui um exemplo do que devia ser o capitalismo: direccionado para o bem-estar de todos e não só de alguns.
Citações de Swami
- De cada vez que um jornalista vem ter comigo, a sua primeira pergunta é: Como pode ser um monge e CEO [administrador executivo, empresário]?
A minha resposta é sempre a mesma: quando alguém está apaixonado, está apaixonado po tempo todo. Não existe nenhum momento em que não esteja apaixonado. Desde o momento em que acorda de manhã até adormecer à noite depois de um dia de trabalho. Durante essas horas todas, quer tenha estado fisicamente ou não com a pessoa que ama, nunca cessou de estar apaixonado. No entanto, ele cumpriu as sua funções como amante, marido, amigo, esposa, filho ou filha, homem ou mulher, empregado ou administrador. Passa-se o mesmo comigo. Sou sempre um monge, um homem espiritual, (…) independentemente do que esteja a fazer…
- Despertar é muito mais do que uma crença. Podemos mudar a crença mas não podemos escapar do despertar. Despertar que sou tu…que a minha equipa de trabalhadores me fez compreender que a sua felicidade vem em primeiro lugar.
Que melhor recompensa que a felicidade dos nossos amigos da Fashions International quando eles recebem ordens boas ou um novo cliente ou quando eles recebem a sua parte do rendimento da empresa. Sim não só eles recebem o seu salário mensal e os benéficos sociais, como também recebem uma parte do rendimento da empresa, não lucro…rendimento.
O que é que maior rendimento pessoal iria trazer para mim? Mais vestes do que esta? Mais comida do que o meu estômago pode acomodar? Jóias? Não preciso de nada disso tal como não preciso de parecer rico…
Ver mais em:
http://www.colegiadodharmaparishad.com.br/Mentalidade%20empresarial%20da%20nova%20era.htm
http://www.nytimes.com/2004/12/04/business/worldbusiness/04iht-wbspot04_ed3_.html
http://news.bbc.co.uk/2/hi/south_asia/3094780.stm
http://www.bookofjoe.com/2004/12/ceo_of_the_year.html
http://ashejournal.com/index.php?id=11
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