07/05/09

A deterioração sócio-laboral

“Se pudesse, se me deixassem, já estava em casa há muito tempo”. Esta é a afirmação que ouço com mais frequência da boca de quem trabalha. As pessoas referem-se a pedir a aposentação; este sentimento é revelador da degradação social e das relações laborais a que se chegou. As pessoas não gostam do trabalho que exercem e só se mantêm porque precisam do dinheiro para viver. Houve tempos em que várias pessoas se mantinham em funções muito para além da idade da aposentação; isto significava que tinham prazer no trabalho que exerciam, que se sentiam bem, acarinhadas, reconhecidas. Quando as pessoas são maltratadas, exploradas, vivem num mau ambiente laboral, o sofrimento é atroz e leva ao desabafo de preferirem se aposentar.

Como não existe uma tradição de luta laboral em Portugal, o estado da situação perdura pelas gerações. No sector privado são pontuais as situações de greve ou protestos, devido à fragilidade que o Código do Trabalho provoca nos trabalhadores. O sector público era o barómetro da manutenção dos direitos sociais, mas a inveja e manipulação das massas trabalhadoras do sector privado, permitiu ao poder também fragilizar os trabalhadores da Administração Pública.

Em alguns sectores específicos (por exemplo, aviação, saúde) ainda se encetam formas de luta mais duras, com vários dias consecutivos de greve. Mas isto só é possível porque os salários que esses trabalhadores auferem torna possível essa forma de luta, não pondo em causa a sua sobrevivência diária.

E deste modo, as gerações mais novas das famílias menos abastadas e portanto com menos capacidade de tráfico de influências para adquirirem um emprego respeitável nos seus direitos, quando entrarem no mundo do trabalho, vão se sujeitar a condições de índole esclavagista, deteriorando o tecido social.

Como dizia Otelo Saraiva de Carvalho em 1984, a passividade e amorfismo das massas trabalhadoras no país do desenrasca, são factores limitativos mas acumuladores de tensão. Historicamente, essa tensão quando se libertava foi sempre de forma destrutiva, conduzindo a revoltas sociais sangrentas e destruidoras do tecido económico. É esta forma de equilíbrio social que deveria preocupar seriamente os dirigentes do país, dadas as consequências que pode acarretar para a nação...

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