02/05/09

Em contrapartida, o acréscimo de filiados concentrou-se praticamente na administração pública, na Saúde e na Educação. Esta tendência não surpreende Elísio Estanque, professor de Sociologia do Trabalho na Universidade de Coimbra. "Os sindicatos crescem nos sectores mais estáveis [ligados ao Estado] e no sector dos serviços", diz. Este especialista chama a atenção para o facto de ser a classe média "que mais tem aguentado o sindicalismo", até porque "o operariado está em declínio". As últimas grandes manifestações dos professores mostram que é naquela franja da sociedade, "a que mais tem vindo a perder com as mudanças na administração pública", que reside o "último bastião do sindicalismo em Portugal", advoga.
Para este responsável, "a imagem dos sindicatos juntos dos trabalhadores está muito degradada" e a tendência é para "que surjam novas redes, novos movimentos de defesa dos trabalhadores". Até porque os patrões portugueses "dão cada vez menos importância à diversidade interna" e à existência de organizações representativas dos trabalhadores, "fundamentais para a regulação do conflito interno". Esta tendência, "muito influenciada pela globalização", leva os trabalhadores a "auto-reprimirem-se, com medo de entrarem na lista negra e serem descartados", diz Elísio Estanque. Mas, à medida que a pressão for aumentando, aumenta também a "vontade de explodir", e é provável "que venhamos a assistir a algumas explosões sociais", vaticina.

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