31/03/08

A educação não tem receitas

Após estes dias de muita opinião antagónica e de juízos de valor apressados e precipitados, considero que em educação não existem receitas. O ser humano não é um sistema informático que obedece automaticamente aos comandos que lhe são transmitidos; a mesma acção tem efeitos diferentes consoante o individuo.Por isso, distancio-me sempre da censura fácil aos pais quando os filhos têm comportamentos desviantes, como tem sido feito em relação aos pais da aluna mais mediática do momento. Sem conhecer pessoalmente as pessoas em causa, como sabem que não aplicam a educação de valores mas que simplesmente não penetram naquela adolescente? Uma solução que funciona com uma adolescente não significa que funcione com todos; não acontece o mesmo com adultos? Quantos adultos persistem em comportamentos desviantes apesar das sanções e repressões que sofrem?
Condenar no imediato os pais pelo comportamento da filha é como avaliar negativamente o professor pelos maus resultados escolares dos seus alunos; sem contextualizar e determinar o grau de responsabilidade de cada uma das partes, qualquer juízo de valor é precipitado e sensacionalista.
“Mandar postas de pescada” quando se está como espectador é muito fácil, sem conhecer todos os factores que influenciam o comportamento. A complexidade multifactorial implica uma prudência na avaliação das pessoas envolvidas, sob pena de se estar injustamente a colocar em causa a reputação dos envolvidos.
Educar crianças e adolescentes sempre foi um dos processos mais complexos colocados aos pais, e a metodologia de reproduzir a educação transmitida pelos ascendentes muitas vezes se revelou infrutífera; cada criança é um caso único e só quem convive quotidianamente com ela é que pode determinar qual a pedagogia educativa mais adequada. Portanto, as sugestões das mais variadas medidas correctivas (utilizando o jargão moderno do sistema educativo), podem ou não funcionar, dependendo das caracteristicas psico-emotivas do destinatário; umas bofetadas podem ser eficazes com fulano mas com outro podem agravar o cenário.
Obviamente que existem valores universais que têm de ser transmitidos qualquer que seja a metodologia pedagógica, mas muito do que se criticou foi exactamente o método.
Recordando o famoso provérbio africano de que “para educar uma criança é preciso uma aldeia inteira”, então também se pode abranger a responsabilidade do comportamento desviante da adolescente a toda a comunidade onde ela vive. Culpados? O grupo a que se chama Sociedade e que vai desde o empresário, passando pelo politico e terminando no trabalhador. O empresário que só se preocupa com o lucro e com isso agride selvaticamente com o marketing, apelando ao endeusado consumo, caracterizando o individuo pelo que tem e não pelo que é; o político que só se preocupa com o poder (obtendo o voto para tal) e com isso propagandeia ideias demagogas atacando classes profissionais, denegrindo-as e atiçando classes sociais umas contra as outras; o trabalhador que anseia por ser igual a um dos outros dois e para isso promove a competição feroz e desregrada com o objectivo único da ascensão social.
E os jovens crescem e são educados neste ambiente bélico…

30/03/08

Partidarite

Primeiro as escolas e depois os centros de saúde. Afinal, o outro tinha razão quando desabafou "no jobs for the boys". Só que ele foi-se e os boys continuaram a refastelarem-se...
Mais coisa menos coisa, vai ser preciso criar o programa "Novos Cartões do Partido", porque o número de boys começa a ser escasso para tanata oferta de 'tachos'...

Médicos contra risco de "partidarização" dos novos agrupamentos de centros de saúde
30.03.2008, Natália Faria - PÚBLICO

BE questiona Governo sobre critérios de nomeação dos directores executivos das novas unidades de saúde, por temer "avidez" do aparelho partidário
Centenas de médicos, enfermeiros e administrativos das unidades de saúde familiares estão a subscrever um manifesto de protesto face ao processo de designação dos directores executivos dos agrupamentos de centros de saúde (ACS), que consideram abrir portas à "partidarização" da rede de cuidados de saúde primários. No manifesto, que circula numa mailing list, os signatários lembram que, decorrido um mês desde a publicação do decreto-lei que cria os ACS, as distritais e as concelhias do PS de todo o país "já se insinuam num processo tão frenético quanto subterrâneo de tentativa de imporem às ARS os respectivos directores executivos". "Não os melhores, mas os mais devotos e obedientes", enfatiza o manifesto, acrescentando que "a partidarização dos ACS constituirá uma monumental asneira, seguramente a evitar".

29/03/08

À la portuguesa

“Há um travo amargo na comemoração, hoje, dos dez anos da Ponte Vasco da Gama. A obra mais emblemática dos anos 1990, que movimentou centenas de milhões de euros, que alimentou polémicas dentro e fora de Portugal e que foi alvo da maior guerra jamais movida por associações ambientalistas no país, não cumpriu várias das suas promessas.” PÚBLICO

Um ministro das Obras Públicas deste país negociou um contrato de concessão de uma travessia fluvial com uma empresa, para a construção de uma ponte, dando-lhe o monopólio dessa concessão e de todas as futuras pontes que fossem construídas no rio. Após cessar o mandato, esse ministro foi convidado para presidente não executivo da empresa com a qual negociou a concessão.
O ex-ministro chama-se Ferreira do Amaral e a empresa Lusoponte.
Mais uma forma imaginativa e legalista de praticar aquela coisa começada por C….

Esperar é uma virtude

26/03/08

A verdadeira causa das crises económicas

Os chavões normalmente utilizados são a “globalização”, “baixa produtividade”, “salários elevados”, “ pouca flexibilidade laboral (vulgo, despedimento livre sem encargos)”, etc., nunca mencionando a causa primordial dos problemas económicos a nível mundial: a CORRUPÇÃO. Em Portugal é endémica, desde há muitos séculos, mas o poder politico nunca a considerou como prioritária; exemplo disso, foi o ‘esquecimento’ por parte do PS da proposta de lei do deputado João Cravinho sobre os métodos de combate à corrupção, colocando-a na gaveta. O que faz reflectir sobre os interesses que deambulam pelo parlamento...
Portanto, todos estamos a pagar com uma diminuição da qualidade de vida, a incapacidade cultural de eliminar o depauperamento dos recursos por um conjunto de pessoas cuja ganância é o seu mote de vida...


Mentalidade parasitária não é digna de empresário - DN

Os escândalos fiscais de empresas portuguesas sucedem- -se. Agora são 80 empresas, a maioria no sector tido por particularmente competitivo e avançado em termos tecnológicos, da indústria de moldes em Leiria e Aveiro. Os acusados são 215 gerentes, cujas empresas pagavam em excesso fornecimentos de aço, desde que a diferença escorresse, em seguida, para as suas contas bancárias privadas. O ganho media-se em custos das empresas inflacionados, justificativos de IRC diminuídos, e em rendimentos pessoais aumentados, sem que sobre eles incidisse o desagradável IRS. A PJ de Leiria descobriu uma verdadeira quadrilha de malfeitores, cujo esquema de funcionamento beneficiava do encobrimento da casa-mãe alemã, fornecedora do aço, para não suscitar a desconfiança do fisco.Enfraquecer as empresas para enriquecer mais depressa não é próprio de empresários. Estes distinguem-se pela sua função de investidores, de pessoas que se empenham em criar riqueza a partir de uma oportunidade de negócio. O lucro, enquanto remuneração do capital investido, é uma consequência do êxito da unidade produtiva, que o alcançou, e nunca a punção de activos, que a fragilizem. A mentalidade parasitária, à margem das leis vigentes, está na génese de muita economia paralela que ainda existe entre nós. Essa mentalidade e os esquemas tortuosos que engendra enfraquecem a economia, em geral, e traduzem-se sempre em direitos laborais tripudiados. Como Hércules e o estábulo de Áugias, o fisco, a PJ, a ACT e a ASAE, por mais berraria, que os tente paralisar, têm ainda muita porcaria para limpar do tecido produtivo deste país.A revelação foi feita pelo diário britânico Financial Times, mas o grito de desespero, esse, veio de Roma e pela mão de Josette Sheeran. A directora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), a agência das Nações Unidas, fez um ultimato aos países doadores: são necessários 324 milhões de euros "até ao dia 1 de Maio", caso contrário, será cortada a ajuda alimentar a 73 milhões de pobres no mundo. Na origem deste inédito ultimato está o aumento do preço dos produtos básicos, das matérias-primas, dos combustíveis, o que, consequentemente, faz reduzir o orçamento do PAM, logo, a sua capacidade de ajuda que, anualmente, chega a 90 milhões de pessoas - 60 milhões dos quais são crianças - em 78 países. O ultimato-pedido não deve deixar ninguém indiferente e, decerto, não deixará os responsáveis dos países doadores. Mas o problema não é de fácil solução e ameaça repetir-se a curto prazo. Porque a escolha começa a ser entre alimentar os que nasceram "no outro lado da vida", que vivem em zonas "queimadas pelo sol e pela guerra", e utilizar os cereais (que lhe fazem falta) no fabrico de biocombustíveis que protegem o ambiente. Por outras palavras: é a escolha entre a sobrevivência dos de hoje e a vida dos de amanhã. Mas sem resolver o presente o futuro estará sempre hipotecado.

Burla superior a um milhão no 'aço' constitui 215 arguidos
CÁTIA ALMEIDA e JÚLIO ALMEIDA – DN
Burla superior a um milhão no 'aço' constitui 215 arguidos
Polícia Judiciária e Finanças investigaram caso durante três anos

Um esquema fraudulento na comercialização de aço foi descoberto pela Polícia Judiciária (PJ) e pelos serviços das Finanças de Aveiro e Leiria, tendo o Estado já recuperado um milhão de euros em impostos. O número de arguidos - 215 - demonstra bem a dimensão da "rede". No total, o processo tem 110 volumes. A investigação, que durou mais de três anos, obrigou a complexas perícias técnicas, tendo sido remetido ao Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP) do Ministério Público, em Coimbra. A suposta fraude funcionava com um "modus operandi singular", como disse Teófilo Santiago, director do Departamento de Investigação Criminal de Aveiro da PJ. Uma empresa portuguesa localizada no distrito de Leiria, que tem a casa-mãe na Alemanha, mas cujo nome não foi revelado, conseguia vender aço a preço superior ao que era praticado no mercado através de um esquema que beneficiava os gestores e responsáveis das firmas clientes. Cerca de 80 compradores que aceitaram negociar com a filial portuguesa naqueles termos seriam "mais tarde ressarcidos" da verba cobrada a mais, mas para as suas contas pessoais, através da empresa com sede na Alemanha. Todas as empresas portuguesas compradoras daquele produto estão ligadas ao fabrico de moldes e com sede na zona da Marinha Grande e no distrito de Aveiro (Oliveira de Azeméis).Ao adquirir matéria-prima mais cara, verificou-se a descapitalização manifesta das empresas que acumulavam prejuízos e não pagavam os seus impostos. Assistiu-se, por outro lado, ao enriquecimento ilegítimo dos responsáveis ou gerentes beneficiários do esquema menos interessados na boa gestão das suas empresas do que no lucro pessoal. Já o fornecedor de aço conseguiu, desta forma, alargar o seu nicho de mercado. A empresa continua em actividade, tendo corrigido este procedimento supostamente artificioso e fraudulento.De acordo com a PJ, aquele artifício de facturação gerava lucros avultados à empresa portuguesa. Para anular tais resultados foi encontrada uma forma que passou por aumentar também os custos através da emissão de "notas de débito" por parte da empresa-mãe alemã."O esquema assim utilizado, para além de resultar numa distorção da concorrência, levava à descapitalização das empresas portuguesas e a um enriquecimento ilegítimo dos seus sócios, frustrando a liquidação dos impostos em sede de IRC e IRS.