19/11/10

Uma falácia da vida

Uma cimeira com 60 chefes de Estado é sempre justificação de protocolos de segurança rígidos. Os custos financeiros disparam mas são admitidos para justificar a segurança. Postos de controlo nas fronteiras, ruas encerradas, serviços públicos encerrados, para evitar um hipotético ataque de algum grupo organizado. Contudo, sendo realistas, estes grupos, sendo organizados, há muito tempo que já teriam entrado no país e não seriam nestes dias que o tentariam fazer. Além disso, o comando-geral da GNR admite que é impossível uma vigilância permanente em toda a fronteira portuguesa. Dito isto, então porque se está a gastar centenas de milhares de euros colocando postos policiais apenas nas fronteiras mais frequentadas, sabendo que a eficácia de impedir a entrada a grupos com intenções terroristas é bastante reduzida?

Sendo politicamente incorrecto, apenas para persuasão psicológica e justificar o uso de dinheiro público que de outro modo seria muito difícil justificar…

04/11/10

Confissão

Cogito há vários dias, numa pérfida indecisão. A minha raiva e revolta pendem para a adesão à luta social publicitada mas a minha racionalidade pende para a resignação, porque convicta que da luta não resultará mudança. Abdicar de um dia de descanso, ‘dar o corpo ao manifesto’ por uns tantos passageiros clandestinos que ficam em casa a gozar o dia de fim-de-semana e posteriormente também usufruem de hipotéticas vitórias, está-se a revelar pouco atractivo. Efectivamente, é melhor uma má decisão do que nenhuma decisão, porque a dúvida é mentalmente excruciante. Os indícios apontam para a vitória da razão, que persistentemente tem recordado um aforismo: “Se não lhes podes ganhar, junta-te a eles”. Manter e cultivar boas relações com os adesivados rosa e laranja, será a atitude inteligente, porque será sempre um deles a gerir o poder. A hipótese de obter formação especializada em administração pública, gastando uns milhares de euros, é cada vez mais realista, porque será um dos cargos de refúgio com alguma protecção. E neste contexto, entramos num processo social darwinista, com tudo o que de maquiavélico isto acarreta…

A história repete-se mas não a curto prazo: uma união como a que aconteceu há dois anos, só num futuro longínquo…

“Quem tem unhas, toca guitarra”, mas não é motivador nem revigorante viver num contexto quotidiano de darwinismo social, onde a maioria é escrava ou subjugada; é uma vida sem esperança, sem fulgor, sem brilho…

01/11/10

Doutorado em raiva

OS PORTUGUESES NO FINAL DE 2011

A MINHA VIDA PARA ALÉM DO DÉFICE

Doutorado em raiva (II)

NÃO QUERO:

PAGAR A GANÂNCIA DO SISTEMA FINANCEIRO!

PAGAR A CORRUPÇÃO DA CLASSE POLITICA!

UMA VIDA DE “METRO, TRABALHO, SEPULTURA”!

Nós pagámos os seus lucros, mas não queremos pagar a sua crise!

O dilema da representatividade

É verdade que milhares de professores se sentem defraudados pelos resultados obtidos pelos sindicatos nas negociações com o ME nos últimos dois anos, e por isso, têm sido muito críticos da actuação dos mesmos. Contudo, no quadro jurídico actual, os sindicatos são as únicas instituições que são oficialmente reconhecidas como representativas das classes profissionais, pelo que é fatídico os insatisfeitos terem de aceitar a sua existência.
Os argumentos usados pelos sindicatos para estabelecerem o acordo basearam-se na presunção de que:
- a opinião pública estava cansada da agitação social e não aceitaria inflexibilidade por parte dos trabalhadores
- não era possível prolongar e endurecer a luta porque os trabalhadores iriam desmobilizar a prazo pelo cansaço
- a melhor estratégia politico-partidária a médio e longo prazo seria capitalizar o descontentamento da sociedade e a conflitualidade nas escolas decorrente da implementação de legislação mal elaborada.
Os argumentos de muitos trabalhadores eram opostos aos dos sindicatos:
- estando o governo sem maioria absoluta, era o momento ideal para endurecer a negociação
- caso o governo não cedesse, os trabalhadores estavam com a força anímica para prolongar a luta
- a estratégia politico-partidária devia ser secundária em relação à defesa dos interesses profissionais, existindo a vantagem de existir o apoio explicíto da oposição parlamentar à luta dos trabalhadores.
Os sindicatos implementaram a sua estratégia e os resultados são visíveis: um falhanço total. Por isso, os profissionais devem manifestar a sua opinião critica nem que seja para que as direcções sindicais conheçam o que existe na mente de muitos dos seus representados, mas devem ter consciência que se enveredarem pela ruptura total, então ficarão solitários e à mercê dos caprichos do poder. As acções individuais contra o poder é como um mosquito picar um elefante; se forem milhares de mosquitos a picar o mesmo elefante, o caso muda de figura…
O argumento sindical mais recente, e que é intrinsecamente verídico, é que se continuar a lutar existe sempre a possibilidade de conseguir uma vitória, ao invés de que fica garantido em absoluto que nada se obtém se optar por não lutar. Efectivamente, é inócuo vociferar contra os sindicatos porque eles são o último muro contra a hecatombe total, apesar de se poder detestar a existência do muro. O inimigo do meu inimigo é meu amigo…
Todavia, o problema é que o contexto sócio-económico criado pela elite governamental esvaziou por completo qualquer veleidade de que a continuação de uma luta resulte num resultado positivo, pelo que tem de se assumir que após várias batalhas, perdeu-se a guerra. É a capitulação e a rendição incondicional, com todas as consequências inerentes.
Deste modo, qualquer forma de luta neste momento é meramente para demonstrar aos vencedores que a raiva e a revolta ainda germinam no interior dos derrotados, e que se hipoteticamente no futuro surgir uma oportunidade, cria-se incerteza nas suas hostes de poder existir massa critica de adesão para os atacar.