28/03/09

Retrocessos civilizacionais

- O que foi construído no passado como um passo no desenvolvimento e bem-estar dos povos está actualmente a ser destruído. E, incompreensivelmente, está a ser destruído numa época financeiramente mais rica do que a anterior. O alargamento dos cuidados de saúde a todos os distritos (com hospitais distritais, SAP, centros de saúde, etc.), os ramais das linhas de comboio em muitas zonas do interior, os serviços públicos colocados em zonas populacionais (estações do correios, repartições públicas), etc., estão a ser encerradas com o principal argumento da contenção de custos, quando o PIB é muito superior ao PIB de quando foram construídos.
- Ser idoso era uma mais valia nos tempos dos nossos antepassados: era o membro com experiência de vida, o conselheiro nas decisões quotidianas difíceis, o acompanhante das gerações mais novas. Em muitas regiões de África e Ásia ainda assim é mas no mundo ocidental passou a ser um fardo. Todo o ser humano que com a idade perca a sua independência e autonomia, está condenado a residir nos centros de espera do fim de vida (vulgarmente denominados lares), levando uma existência ambulatória, de passagem lenta e inútil do tempo, esperando que a natureza desligue o botão biológico. Perde-se e desperdiça-se um capital humano, causado por esta sociedade moderna do consumo e do materialismo, e daí a discussão da eutanásia cada vez ter tanta relevância...

O apagão mundial

É simbólico, mas o simbolismo pode motivar mudanças, e estas são vitalmente necessárias porque está em causa a sobrevivência da humanidade e da biosfera. Se só 1% da população do mundo industrializado executar este acto simbólico, são umas valentes toneladas de contaminantes que não são produzidas. E, portanto, vou desligar...

26/03/09

Clamar por justiça

Pensões milionárias, demissões e fechos de fábricas fazem disparar a agitação social
26.03.2009, Ana Rita Faria - PÚBLICO

O ataque à casa do ex-presidente do Royal Bank of Scotland foi a última gota de uma onda de protestos que tem varrido a Europa e os EUA. Especialistas dizem que não vai ficar por aqui

Uma pensão anual de 750 mil euros, três janelas de casa partidas, menos dois vidros no Mercedes S600. O dia amanheceu sombrio no bairro de Morningside, em Edimburgo. Antes do raiar do sol já a casa de Fred Goodwin, ex-presidente do Royal Bank of Scotland (RBS), estava rodeada de polícias. Um grupo, que se chamou a si mesmo Os Patrões dos Bancos São Criminosos, partira janelas da moradia de Goodwin, bem como o vidro traseiro e um lateral do seu automóvel."Estamos furiosos com as pessoas ricas que, como ele [Fred Goodwin], se enchem de dinheiro e vivem no luxo, enquanto as pessoas comuns ficam desempregadas, sem posses ou sem casa", explicava o grupo responsável pelos ataques, num e-mail enviado a um jornal escocês. A revolta continuava: "É um crime; os patrões dos bancos deviam estar na cadeia". E deixa o aviso: "Isto é só o começo". O dia de ontem provou que sim.
"Enquanto uns são despedidos, outros recebem prémios, o que provoca em qualquer cidadão um choque enorme", diz o sociólogo Sérgio Aires, que dirige o Observatório de Luta contra a Pobreza de Lisboa. O caso de Fred Goodwin é o último exemplo. O ex-presidente do RBS atiçou a ira pública depois de se recusar a devolver uma pensão de 700 mil libras, a que tinha direito por ter pedido reforma antecipada. Até aqui tudo bem, não fosse o facto de o banco estar à beira da falência e só ter escapado graças à ajuda do Governo.
Apesar dos protestos, Sérgio Aires não acredita que venha a ocorrer uma alteração significativa nos prémios e pensões recebidas pelos executivos. Só uma coisa é certa, diz o sociólogo: o clima de agressividade será maior a partir do momento em que o número de pessoas desesperadas aumentar. E, sobretudo, quando a crise atingir a sério as classes médias. "Quem ainda tem emprego está apenas assustado, mas, comparando com alguns meses atrás, pode até estar numa situação melhor, pois as rendas e prestações de casa baixaram, bem como os preços", diz Sérgio Aires. Só "quando a crise nos começar a tocar a todos um bocado mais" poderão ver-se acções mais agressivas, defende.Já para Rogério Roque Amaro, economista social e professor do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), o mal-estar estava latente e é o resultado de "uma sociedade fragmentada e desigual e de um sistema económico que está longe de ser tão eficiente quanto nos faziam crer". De acordo com Rogério Amaro, era natural que as reacções de protesto rebentassem e que continuem a rebentar com mais força daqui para a frente. E ainda bem, diz o economista. Afinal, "os protestos dos cidadãos são o fogo que alimenta a capacidade da sociedade civil de gerar um novo sistema (...).

19/03/09

Citação

"O PS já ocupa todos os altos cargos públicos, faz lembrar o Zeca Afonso: 'eles comem tudo'".
Nascimento Rodrigues, provedor de Justiça, "Visão", 19-03-2009

14/03/09

A avaliação do desempenho

Como vaticinei há longos meses, a avaliação de desempenho profissional imposta na administração pública não é objectiva, sendo muito permeável à influência da percepção pessoal. Os avaliadores avaliam muitas vezes influenciados pela afinidade ou incompatibilidade pessoal em vez da observação do desempenho profissional. Já comecei a ver muita lágrima de frustração por avaliações totalmente influenciadas por questões pessoais e o processo tenderá a agravar-se quando se generalizar em velocidade de cruzeiro a avaliação de desempenho profissional. Com este modelo, as atitudes persecutórias aos não alinhados, as represálias, vinganças pessoais, serão a regra e não a excepção.

13/03/09

Contradições

A desvalorização da Galp e a crise da cortiça fizeram que perdesse mais de metade da fortuna, avaliada em 2,6 mil milhões de euros, e despedisse 193 trabalhadores, mas permanece na lista dos mais ricos. (…) Perdeu mais de metade da sua fortuna mas continua a ser o português mais rico do mundo. Segundo a revista Forbes, Américo Amorim ocupa a 183.ª posição na lista dos milionários de 2009, com os seus 3,3 mil milhões de dólares (cerca de 2,6 mil milhões de euros). DN

Uma contradição abjecta e imoral: um homem cuja fortuna daria para pagar os salários de quem despediu até à aposentação e ainda sobraria imenso dinheiro, escolhe a opção de lançar no desespero quase duzentas famílias.
Existe algo de muito errado na actual organização sócio-económica…

09/03/09

Verdade evidente

"O Partido Socialista assaltou o Estado de uma forma nunca vista e usa os dinheiros públicos para comprar apoios e castigar quem ousa pôr em causa o grande líder".
António Ribeiro Ferreira, jornalista, "Correio da Manhã", 09-03-20

05/03/09

A mesquinhez assassina

O PS cedeu e finalmente anuiu em abolir as (incompreensiveis) taxas moderadoras que criou para os internamentos e cirurgias, mas vai votar contra uma proposta de abolição na Assembleia porque é elaborada pela oposição. Esta mesquinhez politica revela o carácter pessoal de quem representa a nação e não augura nenhuma esperança de que algo colectivamente alguma vez possa mudar...

03/03/09

A força da violência

Nos primeiros dias de Fevereiro, os cartéis da droga fizeram este ultimato: o chefe Roberto Orduña Cruz, o velho general que desde Maio chefiava a polícia da cidade da droga, devia demitir-se. Por cada 48 horas que ficasse, um polícia seria assassinado.Dois dias depois, pontualmente, o braço-direito do chefe da polícia apareceu morto com outros três agentes. Dois dias depois, um guarda de prisão levou um tiro mortal. E o número foi aumentando até que, a 20 de Fevereiro, Orduña Cruz cedeu. DN
Será que a organização social a que chegaram estes países é o resultado da famigerada globalização neoliberal selvagem? O desespero dos imensos excluídos do sistema económico capitalista associado à filosofia consumista teve como resultado a implantação destas organizações criminosas? Será que a ausência de um Estado social forte contribui para o avolumar da selvajaria?
A certeza é que a vantagem está do lado de quem transgride, não possibilitando margem de resposta à outra parte.