29/04/09

A realidade nua e crua

Sobre um presidente de câmara municipal pendiam suspeitas de peculato; os indícios eram fortes mas daí a obter-se meios de prova vai uma distância grande. Foi absolvido em tribunal e já anunciou que não se recandidata. No quotidiano, os cidadãos comentam indignados a falta de honestidade e outros impropérios, mas a realidade nua e crua é que isso não afecta pessoalmente o autarca, porque tendo cumprido 3 mandatos, já garantiu uma pensão de reforma que lhe permite viver desafogadamente, enquanto que para o cidadão comum pende a espada de Dâmocles das dificuldades.

Seja primeiro-ministro, ministro, autarca, ou qualquer outro cargo superior da Administração Pública, com duvidoso carácter moral e ético, no regime actual, individualmente não sofre qualquer consequência: todos eles garantem o bem-estar material até ao fim dos seus dias. Que consequências sofre o PM sabendo que obteve uma licenciatura por tráfico de influências, ou envolvimento em actos decisórios obscuros? Mesmo ficando com a reputação social manchada, a nível pessoal garantiu o bem-estar e consequente qualidade de vida, porque quando abandonar o cargo tem direito a uma pensão de reforma, além de muito provavelmente ter garantido um cargo superior numa instituição nacional ou internacional.

Obviamente que o cidadão comum é contagiado por estas atitudes, e se não existisse a repressão- sob a forma de leis e forças de segurança- muito provavelmente seria a anarquia, porque todos iriam legitimamente procurar o melhor para si...

Deste modo, as elites produzem as leis para conter a população e evitar que esta também enverede por esquemas duvidosos, pelo simples facto que os recursos são limitados e não são suficientes para todos poderem retirar o seu pedaço...

E daí a pertinência do famoso refrão de uma música e autor que dispensam apresentações: “Eles comem tudo e não deixam nada...”

Colectivo vs individual

Num blog mediático (A Educação do meu umbigo), o seu autor escreveu isto:

Tornei-me gradualmente, ainda no início da idade adulta, um descrente em matéria de colectivos. Ainda mais dos colectivos por inacção ou daqueles em que os indivíduos se escondem por entre as massas.
Sei, por observação directa, que protegidos pela multidão, há indivíduos extremamente corajosos, que gritam a plenos pulmões a revolução total e outras coisas igualmente desinteressantes.
Por deformação, desconfio das tomadas de posição unanimistas, de braço no ar ou caído. Deve ser por isso que há quem me ache um bocado reaccionário, pois - apesar da prática de trabalho em equipa não me desagradar nada - sou fortemente individualista num sentido algo radical, ou seja, no de que cada indivíduo deve ser responsável pelos seus actos e não se acobertar atrás do colectivo.

O colectivo de que eu mais gosto - talvez mesmo o único - é aquele que se constrói pela soma das vontades e atitudes individuais, conscientes e livres. Não por pressão dos pares ou conveniências do momento.

Apesar de uma argumentação algo contraditória, a atitude individualista de luta é louvável e reveladora de uma integridade moral e ética. Contudo, é ineficaz e insensata. Num regime não democrático ou deficientemente democrático (como aquele em que vivemos) o cidadão comum sozinho não tem qualquer tipo de defesa contra as potenciais injustiças a que possa ser sujeito pelo sistema. A sua única defesa está no número, na união; se ele se integrar no colectivo dos outros cidadãos, obtém-se um mecanismo de defesa poderoso. Uma atitude solitária, não consegue provocar mudança e é sumariamente trucidada pelo sistema; uma atitude colectiva, dificilmente é trucidada e pode provocar mudança para cada indivíduo. Sugere-se que o somatório das atitudes individuais constroem o colectivo; apesar da lógica do raciocínio, este enferma da falta de coordenação: sem ela, o somatário apenas fica pelas parcelas. É necessário coordenar as parcelas, que cada uma saiba o que a outra faz, para que obtenha um resultado colectivo.
O que é preferível: que existam muitos cidadãos que só se manifestem a coberto da multidão ou que nem sequer se manifestem? Entre uns e outros, é de valorizar os que se manifestam; os outros, não correm nenhum risco, não abdicam, e se não existir mudança, resignam-se, mas se existir, usufruem dos benefícios sem terem mexido uma palha...
Portanto, não é intelectualmente correcto menosprezar os que se predispõem a se manifestar a coberto da multidão; há vários séculos atrás, Gengis Khan teve o discernimento de compreender este fenómeno e para convencer os seus generais da necessidade de fazer alianças com outras tribos, exemplificou da seguinte maneira: pegou numa seta e quebrou-a facilmente; depois, juntou um molho delas e ninguém as conseguiu quebrar...

Quem manda numa nação?

Quem tem o poder económico e financeiro; tendo este, tem o poder das armas. Mao Tse-Tsung afirmou pertinentemente que o ‘poder está na ponta da espingarda’; tendo o dinheiro, compra-se este poder, por que os militares também o procuram. Por isso, é uma falácia quando se afirma que num regime democrático o poder está nas mãos civis; quem sustenta a soberania das instituições é quem tem as armas na mão, e portanto, os civis necessitam do apoio incondicional das forças armadas e de segurança, sem as quais ficam sem o poder. Deste modo, deduz-se que o verdadeiro poder esteve, está e estará nas mãos das forças armadas.

25/04/09

Nós, o povo, é que ainda não sentimos o verdadeiro 25 de Abril. Os autores materiais da revolução podem exprimir o seu desalento e dizer o que vai na alma do povo, mas mantêm o seu estilo de vida, com os seus rendimentos garantidos, os direitos adquiridos, as promoções por critérios políticos. Nenhum deles está em situação de crise, sufoco financeiro, ou vislumbra a hecatombe do desemprego no horizonte. A verdade nua e crua é esta: nenhum politico, dirigente, oficial militar, vive na iminência do desemprego ou de salários precários, tendo sempre garantido o rendimento confortável até ao fim dos seus dias.
Nós, o povo, é que sofremos na pele o que para esses é um simples imaginário…

24/04/09

24 de Abril

Em muita coisa ainda continuamos como era o país no dia 24/04/1974. Principalmente, desde 2005 com a posse de um governo cuja ideologia que empunhou foi uma das principais responsáveis pelo 25 de Abril, que o retrocesso foi insidioso e marcante. Vários sinais de repressão foram surgindo, de traição politica, arvorando ideias que quando se concretizam se revelam antagónicas ao que se anuncia.
Continuamos com o mesmo problema endémico que sempre existiu: a corrupção. O orçamento de Estado é um bolo muito apetecível para ser sujeito ao saque sistemático pelos mesmos grupos de pessoas que apresentam o mesmo apelido de família que há décadas também existiu; continuam a governar, a explorar, a reprimir e a manter o status quo social com a mesma desigualdade.
A ditadura não acabou; adaptou-se, camuflou-se sob outras capas ilusoriamente benéficas, e age encapotadamente ao longo do tempo. Jamais irá se extinguir; apenas existe a esperança de a dominar e condicionar a níveis menos maléficos para o cidadão comum.

17/04/09

Tópico 400

Os chamados números redondos sempre foram atractivos na história da humanidade; talvez pela sensação aparente(?) de equilíbrio, harmonia, que transmitem. Sendo este o tópico nº 400, cai neste conceito que explicitei. O blog é uma catarse das nossas ansiedades, receios, medos, pensamentos, emoções, reflexões. A necessidade de partilhar publicamente talvez seja uma forma de procurar a cooperação, a percepção de comunidade em que os seus elementos possuem características em comum que muitas vezes se convenciam de não existirem.

O objectivo final é que todos interiorizem que estão no mesmo barco, a navegar nas mesmas águas, e que apesar de poderem estar em locais distintos dentro do barco, as suas acções nesses locais condicionam o barco na sua totalidade.