08/02/08

Questões pertinentes

Manuel Alegre, jornal PÚBLICO

(…) O ministro de Bill Clinton, Bob Reich, disse recentemente que antigamente respeitava o capitalismo americano porque era eficaz, produzia riqueza, estava alicerçado em valores, mas agora é uma imoralidade, não cria justiça, destrói os serviços públicos. E até acrescentou: que liquida impiedosamente o cidadão que há em cada um de nós.
(… )O que é hoje o PS? Ainda há socialismo no PS? Ainda se fala de socialismo? Ainda se fala de soluções alternativas? Ou, como dizia o general [Garcia Leandro], as pessoas hoje estão nos partidos mais para resolverem os seus problemas pessoais do que por ideologia?
(…) Penso que o papel dos socialistas é criar soluções alternativas. É fazer as reformas no sentido de garantir a viabilidade e de reforçar os serviços públicos, não de os esvaziar, como é hoje a receita única.
(…) Temos o país que temos. No interior, já quase não existe nada e, quando se fecham serviços públicos em certas zonas onde já não há nada, fica menos que nada e as pessoas sentem-se desamparadas, abandonadas pelo Estado democrático e revoltam-se contra ele ou contra o Governo. As reformas têm de ser feitas de forma que as pessoas percebam e só se pode fechar quando há uma solução alternativa. Não foi para isto que se fez o 25 de Abril, a democracia e o Serviço Nacional de Saúde, para as pessoas andarem na rua à espera de uma Maria da Fonte qualquer ou de um salvador qualquer, seja ele quem for.


(…) A remodelação foi suficiente? O que acha da política de educação?

Estive numa reunião, em Gaia, onde estavam muitos professores e fiquei muito impressionado com a maneira como os professores se sentem humilhados, desapossados da sua dignidade. Não se faz uma reforma nas escolhas contra os professores e sem os professores ou humilhando os professores ou deixando os professores de fora da gestão ou fora das soluções, ou regressando ao papel de director, que ainda por cima pode ser alguém de fora da escola. Para já não falar do ensino superior. Fizeram coisas que põem em causa aquilo por que nos batemos nos anos 60, a autonomia, a gestão democrática.
(…) Essa visão unilateral do ensino só voltado para a Matemática, para o Inglês, para o mercado e para a empresa, é uma visão muito redutora do ensino.

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