13/04/11

A desmistificação do 25 de Abril de 1974

Nunca tive ilusões sobre a versão idilica que a história apresenta sobre o 25 de Abril. Há muito tempo que sabia que o motivo que despoletou o processo foi corporativo. Por isso, é interessante ler um dos principais protagonistas a assumir isso explicitamente:

"Os militares pertencem à classe burguesa, estão bem, estão bem instalados, têm o seu vencimento, vão para fora e ganham ajudas de custo, são voluntários e os que estão reformados ainda não viram a sua reforma diminuída". Mas a situação pode mudar, na perspectiva deste obreiro da "revolução dos cravos", para quem "a coisa começará a apertar, no dia em que os militares perderem os seus direitos".

"Se isso acontecer", sublinhou, "é possível que se criem as tais condições necessárias para que haja um novo 25 de Abril".

Otelo Saraiva de Carvalho lembrou que o movimento dos capitães iniciou-se precisamente por "razões corporativistas", nomeadamente quando "os militares de carreira viram-se de repente ultrapassados nas suas promoções por antigos milicianos que, através de um decreto-lei de um governo desesperado por não ter mais capitães para mandar para a guerra colonial, permite a entrada desses antigos milicianos".

"Esses capitães são rapidamente promovidos a majores e ultrapassam os capitães que estavam a dar no duro e tinham quatro anos de curso", adiantou. Otelo lembra que, "quando tocam nos interesses da oficialidade, ela começa a reagir. Há 37 anos, essa reação foi o movimento de capitães", que culminou no derrube de um regime com 48 anos.

Este "capitão de abril" chama a atenção para a mudança de circunstâncias que se registou nos últimos 37 anos, nomeadamente o facto das forças armadas ao nível das praças , soldados, cabos e sargentos, serem hoje voluntários. "Se a esta gente voluntária cortarem direitos adquiridos, então o caldo está entornado", avisou. DN

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