01/01/08

Militante: um processo de sucesso social

Parece que as Novas Oportunidades também reconhecem os cartões do partido como diplomas certificadores de competências...

O homem do aparelho do PS que se tornou... banqueiro
27.12.2007, Ricardo Felner - PÚBLICO

Armando Vara não deixou de ser uma figura influente no PS e fora dele depois de sair do Governo em 2001. Regressou à Caixa Geral de Depósitos (CGD) como director e, com a subida de José Sócrates a primeiro-ministro, em 2005, foi nomeado para a administração do banco público. Aí, mesmo sem o protagonismo mediático do tempo em que ocupou várias pastas dos governos de Guterres, manteve a capacidade manobrar nos bastidores, atributo que lhe está colado desde o tempo em que ascendeu à presidência da distrital do PS de Bragança e se tornou numa peça chave do aparelho socialista. O ex-secretário de Estado, de 54 anos, apanhado em 2001 no escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança - instituição privada que fundou usando dinheiros públicos quando estava no Governo - acabaria por ser chamado para altos cargos, enquanto administrador nomeado para a CGD pelo actual Governo. Nessa altura, dentro e fora do PS, houve quem denunciasse a atribuição do "job" a um reconhecido "boy" da confiança de Sócrates. Mas isso nunca reduziu o seu espaço de manobra dentro da instituição. O militante socialista, para além de responsável pela área do crédito da CGD, tutela as participações financeiras do banco, nomeadamente na EDP, na PT e na PT Multimédia, no BCP e na Cimpor, e tem a seu cargo as direcções de particulares e de negócios das regiões de Lisboa e do Sul. A subida de Vara na CGD tem sido explicada pelo PSD e por vários comentadores e economistas como uma opção governativa, baseada em cumplicidades partidárias. Isto porque Vara não tem um percurso profissional de excelência na banca e que da sua passagem pelo Executivo pouco sobrou para além uma medida sonante - a campanha da contra a sinistralidade Tolerância Zero - e a polémica que o levaria à demissão. Os amigos contrapõem que Vara foi vítima de uma campanha para o destruir numa altura em que preparava o Euro 2004 e que, não tendo qualificações brilhantes, compensa as suas fragilidades com o seu empreendorismo. Natural de Lagarelhos, concelho de Vinhais, em Trás-os-Montes, Vara galgou degraus dentro do PS até, em 1987, encabeçar a lista do partido em Bragança. Tinha então apenas o liceu, atendia ao balcão da CGD de Mogadouro, mas Mário Soares já lhe reconhecia grandes qualidades como dirigente local.(...) Entretanto foram sendo revelados, pela imprensa, os processos menos claros, ou as cumplicidades perigosas, que havia protagonizado. Falou-se a propósito do seu curso de Relações Internacionais, tirado na mesma Universidade Independente onde Sócrates obteve o seu diploma. Isto porque o fim do curso ocorreu três dias antes da nomeação para a administração da CGD e, nesse período em que houve várias mudanças na direcção da UnI, chegou a ser nomeado para reitor Jorge Roberto, um subordinado do socialista na CGD.A tudo isto, ou Vara não respondeu, ou desmentiu cirurgicamente, à sua maneira, como no caso da Independente. "Pimenta no rabinho dos outros é refresco", disse numa entrevista, referindo-se à forma como o PSD criticou o processo da licenciatura de Sócrates. Isto para além das relações entre Vara, Sócrates e António Morais, o docente que deu quatro das cinco cadeiras com que o primeiro-ministro terminou o seu curso de engenharia civil.

Sem comentários: