01/11/10

O dilema da representatividade

É verdade que milhares de professores se sentem defraudados pelos resultados obtidos pelos sindicatos nas negociações com o ME nos últimos dois anos, e por isso, têm sido muito críticos da actuação dos mesmos. Contudo, no quadro jurídico actual, os sindicatos são as únicas instituições que são oficialmente reconhecidas como representativas das classes profissionais, pelo que é fatídico os insatisfeitos terem de aceitar a sua existência.
Os argumentos usados pelos sindicatos para estabelecerem o acordo basearam-se na presunção de que:
- a opinião pública estava cansada da agitação social e não aceitaria inflexibilidade por parte dos trabalhadores
- não era possível prolongar e endurecer a luta porque os trabalhadores iriam desmobilizar a prazo pelo cansaço
- a melhor estratégia politico-partidária a médio e longo prazo seria capitalizar o descontentamento da sociedade e a conflitualidade nas escolas decorrente da implementação de legislação mal elaborada.
Os argumentos de muitos trabalhadores eram opostos aos dos sindicatos:
- estando o governo sem maioria absoluta, era o momento ideal para endurecer a negociação
- caso o governo não cedesse, os trabalhadores estavam com a força anímica para prolongar a luta
- a estratégia politico-partidária devia ser secundária em relação à defesa dos interesses profissionais, existindo a vantagem de existir o apoio explicíto da oposição parlamentar à luta dos trabalhadores.
Os sindicatos implementaram a sua estratégia e os resultados são visíveis: um falhanço total. Por isso, os profissionais devem manifestar a sua opinião critica nem que seja para que as direcções sindicais conheçam o que existe na mente de muitos dos seus representados, mas devem ter consciência que se enveredarem pela ruptura total, então ficarão solitários e à mercê dos caprichos do poder. As acções individuais contra o poder é como um mosquito picar um elefante; se forem milhares de mosquitos a picar o mesmo elefante, o caso muda de figura…
O argumento sindical mais recente, e que é intrinsecamente verídico, é que se continuar a lutar existe sempre a possibilidade de conseguir uma vitória, ao invés de que fica garantido em absoluto que nada se obtém se optar por não lutar. Efectivamente, é inócuo vociferar contra os sindicatos porque eles são o último muro contra a hecatombe total, apesar de se poder detestar a existência do muro. O inimigo do meu inimigo é meu amigo…
Todavia, o problema é que o contexto sócio-económico criado pela elite governamental esvaziou por completo qualquer veleidade de que a continuação de uma luta resulte num resultado positivo, pelo que tem de se assumir que após várias batalhas, perdeu-se a guerra. É a capitulação e a rendição incondicional, com todas as consequências inerentes.
Deste modo, qualquer forma de luta neste momento é meramente para demonstrar aos vencedores que a raiva e a revolta ainda germinam no interior dos derrotados, e que se hipoteticamente no futuro surgir uma oportunidade, cria-se incerteza nas suas hostes de poder existir massa critica de adesão para os atacar.

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