08/02/09

Ciclo

Quando se recorda o passado, frequentemente a complacência e a incredulidade são sentimentos recorrentes. O modo de vida dos nossos antepassados comparativamente era pior em qualidade e custa aceitar que no presente algo semelhante pudesse acontecer. Contudo, muita coisa não mudou e a pobreza é uma delas. Quando vislumbro uma criança de 5 anos, em pleno 2009, infestada de piolhos, cuja refeição mais equilibrada é aquela que faz na escola (talvez a única), em que a mãe é um esqueleto que transporta umas roupas andrajosas, que passa momentos de fome porque os rendimentos são parcos, isto faz lembrar o tal passado que parecia ter acabado. Esta família representa que a pobreza se reproduz, que limita a mentalidade do indivíduo, se perpetua pelas gerações e ostraciza os indivíduos. Vejo uma criança com o destino traçado, na pobreza, com subdesenvolvimento fisico e cognitivo, despejada no lixo social, porque não possui um agregado familiar que faça quebrar o ciclo pernicioso; e os descendentes dessa criança reproduzirão as mesmas dificuldades. São os indivíduos no fundo da escala social, que sobrevivem, sem se vislumbrar com que fim e que por motivos inexplicáveis persistem agarrados a uma não-vida…
Este ciclo inquebrável, da hereditariedade sócio-económica, é incompreensível perante a capacidade humana de ultrapassar as adversidades mas que não é utilizada para impedir a existência da desgraça social.
A manutenção dos desequilíbrios, da desigualdade, só é quebrada pelo único acontecimento que verdadeiramente é igual para todos os seres humanos, independentemente do seu poder politico, social ou económico: a morte…

Sem comentários: