20/02/09

Modelo económico português

Um divórcio atirou a Mara para uma jornada de trabalho de sete a dez horas, todos os dias da semana. De segunda a sexta assume a tempo inteiro um projecto de aplicações financeiras do Banco Espírito Santo. Ao sábado e ao domingo atende ao balcão numa loja de chocolates das Amoreiras."Levanto-me, trabalho, como e durmo. Para já, é a única opção." No banco, onde está há nove anos, tem um ordenado acima da média. Mas os 930 euros por mês deixaram de ser suficientes quando, por volta dos 30 anos, passou a suportar os encargos sozinha. Diz que nunca teve dificuldade em encontrar em emprego. O da loja, que paga o carro, é mediado por uma agência de trabalho temporário. "Hoje em dia, ter carro e casa só é acessível a um casal." Ou a quem também trabalha ao fim-de-semana.
Alexandra (nome fictício), licenciada em Direito, é outro exemplo concreto dos casos detectados pelo Inquérito ao Emprego no último trimestre do ano passado. Os honorários dos processos oficiosos poderiam ser suficientes se o M inistério da Justiça "pagasse atempadamente". Chegou a esperar oito meses. Pouco depois de ter contactado uma agência de trabalho temporário integrou o departamento de facturação de um dos maiores grupos de telecomunicações. Por um horário de trabalho a tempo inteiro, recebia o salário mínimo e prémios. Não deixou de pedir licenças para aceitar alguns processos. "Depois da expectativa que se cria ao fim de tantos anos de curso e do estágio, desistir custa um pouco. Lido com pessoas que estão exactamente na mesma situação." No início do ano resolveu dedicar-se exclusivamente à advocacia. Espera que a situação dure, pelo menos, até Maio. A opção tomada no ano passado assegurou as despesas básicas: "Ter um pouco de independência financeira, ir ao cinema e de vez em quando comprar roupa." Aos 31 anos, queria já ter saído de casa dos pais.
O retrato traçado pelo INE denuncia, contudo, que os salários baixos ainda são muito frequentes. (…) os dados relativos ao ano passado apontam para a existência de mais de 1,6 milhões de pessoas com um rendimento mensal inferior a 600 euros. O equivalente a 42% de todos os trabalhadores por conta de outrem. DN


Um caso demonstrativo dos baixos rendimentos que perduram à décadas em Portugal. Por isso, é incomprrensivel o argumento empresarial da falta de competividade da economia portuguesa quando um dos factores que pesam no orçamento de uma empresa- os salários- são dos mais baixos da Europa.

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