02/01/10

O dilema da gnose

Uma das questões prementes e frequentes do ser humano quando se confronta com algo novo ou com um dever é saber para que serve, qual a sua utilidade prática. A escola é um local onde esta questão surge amiúde através dos alunos. Para que serve este conteúdo? Para que quero saber esta informação?
Uma mãe com a escolaridade obrigatória perguntou-me a opinião sobre se deveria vacinar contra a gripe A o seu bébé. Aqui está um exemplo concreto daquilo que todos nós vamos encontrar ao longo da vida: situações em que temos de decidir. Uma boa decisão é aquela que é fundamentada em informação sólida e veridica; esta mãe tinha dificuldade em decidir porque não possuía essa informação. Portanto, só lhe restam 2 alternativas: acreditar no que outros lhe dizem ou decidir individualmente de forma consciente e informada. No caso concreto, para uma decisão fundamentada tem de possuir conhecimentos de Medicina, Biologia, Quimica, para que possa ponderar sobre as vantagens e desvantagens de tomar ou não a vacina. E como se obtêm esses conhecimentos? Na escola, através daqueles conteúdos que provavelmente no momento em que foram estudados pareciam que não serviam para nada...
Também a posse de informação permite que o individuo não seja manipulado e enganado por quem detenha o poder; muitas vezes são implementadas decisões gravosas para os direitos humanos e sociais dos individuos, que estes não se apercebem porque não compreendem tecnicamente as consequências das decisões. Um exemplo concreto é a fórmula de cálculo da pensão de reforma; quantos cidadãos a conhecem e compreendem? São necessários conhecimentos matemáticos de nível secundário para se compreender a resolução da fórmula. Os cidadãos que não possuem esses conhecimentos limitam-se a aceitar o que os decisores lhes dizem e só tardiamente irão compreender os efeitos que sofrerão individualmente.
Mas, como é apanágio do Universo, tudo tem um reverso: possuir conhecimento tem o seu lado negativo. É uma paradoxo filosófico que é mencionado há milénios: o conhecimento tanto tem de marvilhoso e belo, sendo a chave que abre as portas da percepção, como tem de angustiante e sofredor. No séc. III A.C. determinados autores escreviam:
- (...) Decidi então conhecer a sabedoria e a ciência, assim como a tolice e a loucura. E compreendi que (...) onde há muita sabedoria há também muita tristeza, e onde há mais conhecimento, há também mais sofrimento. Ecclesiastes 1, 17-18
- A sabedoria dos homens alegra-lhe o rosto e abranda-lhe a dureza da face. Ecclesiastes 8, 1

Este dilema filosófico parece que lança mais confusão, mas no íntimo o que implica é que cada um tem de escolher na bifurcação da gnose o caminho que vai trilhar, sabendo que desemboca em destinos e consequências diferentes, comportando sempre as duas faces antagónicas do Universo...

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