03/12/08

A banalização aconteceu

Educação
Novas Oportunidades leva mulher com 6.º ano à Universidade

Uma mulher de Tábua que deixou de estudar na adolescência saltou seis anos de escolaridade em pouco mais de um ano, frequentando agora uma licenciatura em Coimbra. É um exemplo polémico do Novas Oportunidades
Luísa Gaio diz que a sua vida «deu uma volta de 180 graus» desde que há dois anos, ao visitar a feira anual de Arganil, soube que poderia obter a equivalência do 9º ano através do Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (RVCC).
Luísa Monteiro Gaio, de 33 anos, casada e mãe de dois filhos, dirigiu-se de imediato à Escola Secundária de Arganil para se inscrever no RVCC, uma das valências do actual Centro Novas Oportunidades.
Quando concluiu o curso, sem emprego, a formanda produzia algum artesanato, cuidava da habitação e dos filhos do casal, de nove e 12 anos, a que se juntam regularmente mais dois filhos do marido. Nem sequer pensava avançar para a certificação do 12º ano.
«Mas a técnica profissional que acompanhava a Luísa incentivou-a a prosseguir», recorda à agência Lusa Assumpta Coimbra, que era na altura a coordenadora do RVCC. A formanda distinguiu-se num grupo de 40 candidatos à certificação de competências.
«A Luísa acreditou que é possível valorizar os saberes da vida», sublinha Assumpta Coimbra.
Entusiasmada com os êxitos obtidos, candidatou-se ao curso de Turismo, Lazer e Património da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), fazendo os exames '+ 23'.
Entrou com média de 14 valores. Só que havia apenas duas vagas na licenciatura reservadas a ingressos através da antiga prova 'ad-hoc'.
O acesso à Universidade foi inicialmente recusado pela instituição. «Vou fazer o 12º ano!», decidiu.
No entanto, em Outubro de 2007, no dia em que iria inscrever-se de novo no RVCC, recebeu uma carta da FLUC a devolver-lhe a alegria: estava, afinal, assegurado o ingresso na faculdade.
Em pouco mais de um ano, Luísa Gaio saltou do 6º ano (antigo 2º ano do Ciclo Preparatório) para o ensino superior.
Fez, com 14 valores de média final, as 12 cadeiras do primeiro ano de Turismo, Lazer e Património, chegando a obter classificações de 19 valores.
Já no 2º ano, a universitária percorre diariamente 130 quilómetros de automóvel, entre Avelar, concelho de Tábua, e Coimbra. Levanta-se às 6h, para cuidar dos filhos que vão para a escola, e chega à Alta coimbrã antes das 8h, para garantir estacionamento próximo da Universidade.
Luísa Gaio não quer falhar uma aula. «Sem apoio do meu marido, não conseguia», refere.
Quase acabaram os passeios que fazia com a família aos fins-de-semana: «Tenho que estudar, fazer investigação e tratar da casa».
No final da licenciatura, pretende concretizar um projecto turístico em conjunto com uma irmã. Também a seduz a investigação académica nesta área. Lusa / SOL

Em 2006, foi o ano em que se expandiu o programa Novas Oportunidades (NO), com a abertura de centenas de centros de RVCC (reconhecimento e certificação de competências). Nesse ano, trabalhei durante uma semana com uma das pessoas que implementou a educação para adultos no país; no final dessa semana de trabalho, essa pessoa, com lugar numa direcção regional, fez uma prelecção sobre os seus receios acerca do NO, e da forma como o governo estava a implementá-lo. Recordo as suas palavras profetizantes ao afirmar "que o seu maior medo era a abertura descontrolada de centros NO, que iriam desvirtuar completamente o programa RVCC”. É fácil imaginar a sua enorme desilusão, principalmente perante casos idênticos ao transcrito...
Para os poucos defensores deste sistema, que seria válido sem a preocupação das metas quantitativas de certificar X pessoas por ano e que se aplica a um conjunto especifico de pessoas e não ao universo da população, apenas lanço o desafio dessas pessoas certificadas se sujeitarem a um exame nacional do 9º ou 12º ano, para verificar se possuem os conhecimentos equivalentes aos anos de escolaridade em causa. Estou convicto dos resultados que surgiriam...


Sem comentários: