17/12/08

Desabafos da alma ferida de raiva

Quando é que em Portugal algo semelhante surgirá? Os desabafos são cópias perfeitas dos desabafos portugueses...

"Sabemos que os polícias são corruptos, que mesmo com uma boa licenciatura estamos condenados ao trabalho precário e o nosso nível de vida será mais baixo que o dos nossos pais. Mas agora sabemos que podemos ser abatidos por um polícia na rua", explica Yannis.

"Se tivesse força, também atirava pedras aos polícias assassinos. E incendiava os bancos, aquece o coração mesmo que não dê cabo do capitalismo", junta a amiga que a acompanha.

Os que têm 13 a 15 anos ainda estão longe do mundo do trabalho, mas já sabem que o seu futuro será muito difícil, num país em que a taxa de desemprego dos jovens dos 15 aos 25 anos ultrapassa 24 por cento. Se encontrarem emprego, deve ser temporário e mal pago. Fazem parte daquilo que os gregos dizem ser a "geração 600 euros".
"Estes jovens não estão só a escaqueirar as montras dos bancos, mas também a vida que têm", afirma a romancista Ioanna Karystiani, que também estava na Politécnica em 1973. "Os motivos deles não são diferentes dos nossos então... Claro, hoje há democracia, mas os partidos confiscaram-
-na para o seu próprio interesse, o desemprego é ainda pior e as humilhações são diárias", diz o advogado Kanelopoulos.

"É preciso encarar a realidade: há cinco anos que os conservadores governam o país, mas o PASOK esteve mais de 25 anos no poder, com o apoio dos comunistas. Colou-se ao sistema, com o mesmo desperdício dos dinheiros públicos, o mesmo clientelismo e imobilismo", reconhece a economista Marika Frangika. Numa entrevista ao Elefthérotypia, o sociólogo Constantin Tsoukalas pôs o dedo na ferida: "Hoje o desencanto é geral, e nenhum partido é credível: a falta de esperança é sempre mãe da violência e da transformação do povo numa multidão enraivecida." PÚBLICO


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