23/01/09

Perante as evidências

Chegou o momento de encarar a realidade: foi uma grande luta mas sempre se soube que o Golias iria vencer. Um Golias armado com uma maioria absoluta + poder + tempo para desgastar + uma grave crise económica= vencer a batalha.
A autopreservação vai ser mais forte e o tempo de prolongamento da luta é desfavorável à manutenção de uma força anímica para manter a pressão e por isso os professores vão ter de alinhar neste ECD e consequente modelo de avaliação. Este governo está a usar subrepticiamente a crise como forma de coagir e impor a sua politica; com as perspectivas sócio-economicas num patamar dantesco, muitos professores vão ceder à autopreservação, e o instinto vai conduzir à defesa do emprego, mesmo que em condições muito piores. No actual panorama, poucos se atrevem a enveredar por caminhos de conflitos jurídicos, cujo resultado final é duvidoso e arriscado. Recordo um actual titular avaliador que, no inicio do processo de implantação do modelo de avaliação, referia que o mais importante era manter o emprego, porque muitos professores que pensavam que isto eram “favas contadas”, agora estão na contingência de as perder, porque por cada um de nós estão centenas à porta para entrar...
Existem duas conclusões:
1- a satisfação de, em muitas dezenas de anos, uma classe profissional tão heterogénea e tão passiva se ter unido por tanto tempo.
2- a categoria dos professores titulares vai estar numa posição muito difícil; as relações interpessoais não vão ser as mesmas porque irá ocorrer o distanciamento e a divisão entre 2 grupos: os suplentes e os titulares. Toda a afectividade que existia na escola entre docentes vai desaparecer e as relações vão-se tornar politicamente correctas, estéreis e meramente profissionais. A nível do quociente emocional é evidente que vai existir uma degradação ao nível dos titulares e as consequências a médio e longo prazo são imprevisíveis.

Em resumo, perante um cenário idêntico ao da década de 30 do séc.XX, com as hordas de pessoas a vaguear pelo país em busca da côdea de pão, o desmembramento da união é uma possibilidade bastante plausível.

3 comentários:

Anónimo disse...

Não podemos ceder.

"O capitalismo contemporâneo vem sendo o palco de um conjunto de transformações que possui relação direta com o crescimento da violência nas escolas. Este conjunto de transformações tem sua fonte nas lutas sociais e na ofensiva do capital no sentido de aumentar a exploração, já que a partir dos anos 60 a taxa de lucro médio vem caindo. A revolta estudantil de maio de 68, juntamente com outros movimentos contestadores da época, representou um primeiro sintoma do novo período de lutas sociais e de transição para um novo regime de acumulação, marcado por uma ofensiva no sentido de retomar o padrão de acumulação capitalista. O novo regime de acumulação vai se esboçando e a partir da década de 80 — com a ascensão e paulatina generalização do neoliberalismo, a chamada reestruturação produtiva e as novas relações internacionais constitutivas de um neoimperialismo — temos sua materialização. Estes três elementos caracterizam o regime de acumulação integral, chamado por alguns de “flexível”, e provocam diversas mudanças na sociedade civil, no mundo da cultura e da ideologia. O neoliberalismo evita os gastos com políticas sociais, contribui com a transformação na esfera da produção e exploração internacional e realiza uma política privatizante em benefício do capital. A sua máxima é um Estado mínimo e forte, isto é, um estado que intervém minimamente e que reprime maximamente. A política repressiva é, nos países de capitalismo subordinado, acompanhada de políticas paliativas (sistema de cotas, educação inclusiva, programas específicos de caráter assistencialista) que se revelam nada mais do uma forma de tentar impedir a total deslegitimação do Estado neoliberal sem sair de sua lógica, isto é, sem aumentar os gastos públicos, jogando a responsabilidade para a sociedade civil ou beneficiando uns em detrimento de outros, tal como na política de cotas. O aumento mundial da população carcerária é apenas uma expressão da face repressiva do neoliberalismo, atingindo todos os países do mundo (por exemplo, aumentou 240% na Holanda e 140% em Portugal). Nem é preciso citar a situação dos países mais pobres e os altos índices de fome, miséria, entre outros, para ver o novo quadro do capitalismo mundial contemporâneo."

Anónimo disse...

Daqui:
http://www.apagina.pt/arquivo/Artigo.asp?ID=3536

Anónimo disse...

o texto citado acima é de Nildo Viana, um dos maiores pesquisadores sobre o capitalismo atual, autor do livro, O Capitalismo na era da acumulação integral.