10/04/08

A mentalidade cultural portuguesa

Batalha de La Lys
jornal PÚBLICO (09/04/2008)

(...) Em Agosto de 1914, o Governo republicano de Afonso Costa considerou que a intervenção militar portuguesa na Grande Guerra seria a solução para os problemas e divisões internas do país. Pensou também que essa intervenção iria dar a Portugal um lugar à mesa das negociações do pós-guerra, entre as potências vencedoras. Por isso, fez tudo para que Portugal pudesse ir ajudar os ingleses, apesar de todos os esforços destes para que as tropas portuguesas ficassem em casa.
Fardas de Verão no Inverno
Desde o treino militar especial em Tancos, até ao embarque em Lisboa, tudo foi feito de forma precipitada e deficiente.Em Janeiro de 1917, cerca de 55 mil jovens provenientes das zonas rurais, quase analfabetos na sua maioria, partiram do cais de Alcântara (a maior parte nunca tinha visto Lisboa) de barco para Brest, em França. Após uma viagem em que escasseavam os alimentos e a higiene, o CEP viajou logo a seguir de comboio para a Flandres. Chegados ao destino, tiveram de caminhar cerca de 30 quilómetros, carregados com todo o equipamento de campanha, até aos seus locais de acantonamento. Era o Inverno mais frio dos últimos anos na região, e as fardas dos portugueses eram de Verão. As botas eram de couro de má qualidade, não impermeável à chuva e à neve, os capacetes de ferro eram muito pesados e pouco eficazes na protecção, e a "mescla" das camisolas não protegia do frio. As tendas eram insuficientes para todos e as mantas de dormir ficavam empapadas na lama e na neve.A falta de hábitos de higiene propiciou o alastrar das doenças e dos piolhos, sarna e outros parasitas.Além disso, o armamento era insuficiente e inapropriado, e ninguém tinha recebido treino adequado para a guerra das trincheiras.É verdade que, com a falta de disciplina e de organização, os "praças" portugueses desobedeciam às ordens dos superiores, não permaneciam nos lugares que lhes estavam destinados, não cumpriam as regras e os procedimentos de segurança, para exasperação dos comandantes ingleses.É verdade que, furiosos com as más condições e com as diferenças de tratamento entre os soldados e os oficiais, muitas vezes os portugueses se sublevaram, se esconderam ou fugiram.É verdade que, com o frio, os portugueses roubavam roupas aos militares ingleses e às populações das aldeias.

Um exemplo concreto da típica cultura portuguesa:

- exploração dos mais fracos e mais pobres
- para um politico é muito fácil enviar os filhos dos outros para a guerra como meio de satisfazer os seus interesses políticos
- a desigualdade entre as elites (oficiais) e o povo (soldados): uns tinham a roupa, comida e alojamento e os outros népias.


Um relato do inicio do séc.XX; alguma coisa mudou?

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