10/04/08

Os sinais já começaram a surgir

Preços dos alimentos estão a causar conflitos
LUÍS NAVES - DN

Vários países mergulham no caos devido a protestos

Violentos motins causados pelo aumento dos preços dos alimentos estão a provocar o caos no Haiti. Os tumultos já duram há uma semana e provocaram até agora pelo menos 5 mortos e 40 feridos. A situação agravou-se ontem, quando manifestantes tentaram atacar o palácio presidencial, em Port-au-Prince. Forças da ONU dispararam balas de borracha para dispersar a multidão e o Brasil, que comanda a missão das Nações Unidas, já enviou comida de emergência.O Haiti é apenas um dos países afectados por um problema que se agrava em cada dia que passa: o aumento mundial dos preços dos alimentos, fenómeno complexo que ameaça a estabilidade de regiões pobres e centenas de milhões de vidas.Os preços mundiais estão a aumentar há três anos. Só o custo do trigo, por exemplo, subiu 181% em 36 meses. As razões são diversas, mas estão sobretudo relacionadas com mudanças no consumo e com o petróleo caro. O aumento do preço da energia torna os fertilizantes mais dispendiosos e o transporte mais caro. Também estimula a produção de biocombustíveis (por exemplo, à base de milho, girassol ou soja), que por sua vez, desequilibram a oferta de rações para animais.A isto somam-se alterações climáticas, que não têm impacto nas produções mundiais, mas podem ser catastróficas a nível regional.Ontem, em Nova Deli, Jacques Diouf, o director-geral da FAO (a agência da ONU para a alimentação) fez um novo alerta para o problema do aumento dos preços e os respectivos efeitos na alimentação dos mais pobres. "Os preços subiram 45% nos últimos nove meses e há uma séria falta de arroz, trigo e milho", disse Diouf.As organizações internacionais, como a FAO ou o Banco Mundial, têm alertado para a questão. Além do Haiti, já houve incidentes no Egipto (anteontem morreu um jovem durante uma manifestação provocada pelos preços elevados da comida), na Costa do Marfim, Camarões, Bolívia, México ou Iémen, entre muitos outros.A crise alimentar atinge 36 países, segundo a FAO, não apenas pelo aumento dos preços dos alimentos, mas por efeitos regionais, tais como secas, inundações, conflitos políticos ou dificuldades de pós-conflitos. A Suazilândia ou o Lesotho, por exemplo, estão em seca há vários anos. O Zimbabwe mergulhou em profunda crise política. A respectiva situação alimentar é de "faltas excepcionais" de alimentos.Na Ásia, a situação mais grave é no Iraque, onde há milhões de deslocados, mas também no Afeganistão ou na Coreia do Norte. A insegurança alimentar (situação menos séria do que a anterior) afecta países muito populosos, tais como República Democrática do Congo, Quénia, Etiópia, Paquistão, Indonésia ou ainda Bolívia, entre outros.A população mundial aumenta entre 50 milhões e 70 milhões de pessoas em cada ano. Isto está a provocar uma forte pressão sobre a terra arável disponível. Enquanto os países mais ricos, como os da União Europeia ou os Estados Unidos, estão há duas décadas a reduzir os espaços agrícolas; outros, como China, Índia ou Brasil tendem a aumentar as terras aráveis, causando maior erosão dos solos.O enriquecimento de alguns países também tem impacto. Em 1980, o consumo per capita de carne, na China, era de 20 quilos; agora é de 50 quilos. Mas, nos países mais pobres do mundo, um quarto da população gasta 70% a 80% do seu rendimento em comida. São estes países que mais sofrem com a inflação internacional.Um dos Objectivos do Milénio, proclamados pela ONU com meta até 2015, era o de erradicar a pobreza extrema e a fome. As razões para o aumentos extraordinário dos preços dos alimentos não vão desaparecer tão cedo e o objectivo parece comprometido. As grandes fomes do passado foram provocadas por conflitos ou falhanços catastróficos de colheitas. A actual situação de subida muito rápida e acentuada de preços mundiais é inédita, dada a extensão do comércio internacional. As consequências são uma incógnita.

Há vários anos que os mais clarividentes vêm alertando para o início de uma situação idêntica. A principal causa de todos os problemas ambientais e de desigual distribuição de recursos não foi e nem é combatida: o aumento exponencial e ininterrupto da população humana. O planeta é um sistema fechado e como tal, possui recursos naturais limitados em quantidade, que só satisfazem um determinado número de indivíduos de cada espécie. Como os estudos de Malthus demonstraram no séc. XVIII (e a partir dos quais Darwin idealizou a teoria da selecção natural) quando a quantidade de indivíduos de uma espécie ultrapassa a quantidade de recursos disponíveis, a taxa de mortalidade aumenta inevitavelmente.
Há 12 anos atrás já existiam cientistas a alertar para as consequências ambientais catastróficas, no caso da China e da India aumentarem o seu nível de vida e não evitarem o aumento das suas populações.
Adicionando o aumento demográfico com as alterações climáticas, estão criadas as condições para a catástrofe, que contrariamente ao que é afirmado no final da notícia, não é uma incógnita: motins, revoltas sociais, fome, aumento da violência e criminalidade, a 3ª guerra mundial…

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