26/04/08

Uso a boca de outro concidadão

"Quem se vai governando já nasceu de camisa branca"
CÉU NEVES - DN

Diz que é um homem de causas, cheio de dúvidas. E em constante interrogação.
"As pessoas valem pelo que são e não pelo que fazem. Gostaria de ver uma Igreja politicamente empenhada. A Igreja aburguesou-se. Não precisamos de mais partidos, precisamos é de uma sociedade civil mais exigente e implacável. Temos um país de bananas onde quem se vai governando já nasceu de camisa branca." Eis Henrique Pinto em discurso directo, um discurso difícil de catalogar. Parece estar contra tudo e contra nada. Provavelmente, estará num momento de viragem, para regressar à casa de partida: os Missionários da Consolata.
Mas para regressar precisa de resolver as questões por que deixou definitivamente a congregação, em 2001. As dúvidas começaram em 1994. "Entrei em crise. Comecei a questionar as verdades absolutas da Igreja, a forma como se hierarquiza, o poder que dá ao sacerdote, por exemplo. Porque é que, perante uma sociedade com tantas desigualdades, a hierarquia mantém todos os privilégios?" diz. E, logo de seguida, adverte que não defende que é preciso viver em dificuldades para apoiar os desfavorecidos: "Não sou dos doidos que dizem que a Igreja deveria vender tudo. O que digo é que a Igreja deveria ser testemunho do desapego." Ou seja, tem dificuldade em perceber que alguém defenda a igualdade social e tenha rendimentos elevados. Por isso, diz que não poderia ser do Bloco de Esquerda. Também não se identifica com o Partido Comunista. Sabe é que é um homem de esquerda. Um homem de causas.
A vida civil deu-lhe outra liberdade intelectual, um valor de que tem relutância em abdicar, sobretudo porque foi educado "para converter tudo e todos ao cristianismo". Liberdade para ser a favor dos métodos contraceptivos, dos casamentos e da adopção pelos homossexuais, por exemplo. Se voltar aos Missionários da Consolata é porque não nasceu para viver sozinho. O ideal seria partilhar uma vida a dois, mas ainda não conseguiu encontrar a outra parte. E tem dúvidas se o conseguirá. "Sendo uma pessoa de causas, teria de encontrar uma pessoa de causas. Se não, é sempre um choque. Há sempre uma cobrança", justifica. E as pessoas com quem se tem cruzado "vivem muito agarradas à terra". Ele vive de forma despegada. O que não quer dizer destituída de bens, mas capaz de deles se desfazer. Está a pagar uma casa, recebe ordenado como director da revista Cais e é investigador e professor da Universidade Lusófona.

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